sexta-feira, 29 de junho de 2007

o seu fantasma

Não quero que amanheça. Não preciso do mundo lá de fora. Eu queria que fosse sempre noite e o seu fantasma para me fazer companhia. Ninguém até hoje amou um segundo sequer por isto não faz a mínima idéia do que eu estou sentindo. Dispenso piedade, cristianismo. Em matéria de amor estão todos boiando, eu sei a verdade, eu sei o quanto rasga, estraçalha, arrebenta e não pede desculpa: isto aqui no meu peito nem de coração mais pode ser chamado. Também sei o quanto esta porra vicia, eu falo, faço discurso, escrevo pro jornal e o escambau, mas sei que daqui a pouco tô eu de novo na praça rodando bolsinha – na luta pela minha trouxinha de poesia. Deus, como eu me vendo barato.

Eu penso nas muitas canções de amor que fizemos aqui nesta mesma cama. Foram noites de ensaio e improviso. Nada mais importava no universo do que o próximo verso que deixaria tudo ainda mais perfeito. Como se dependesse de nós a harmonia do cosmos. Agora eu sinto como se um meteoro do tamanho da lua se aproximasse cada vez mais do nosso planeta – tenho quase certeza disso.

Não quero caminhar pela rua incompleto. Preciso que alguém me chame, que saiba o meu nome, meu nome secreto. O mais difícil é voltar à vida, ressuscitar depois de três dias. Estou que é só resto. Procuro uma camisa limpa e uma direção.
Foto: Ricardo Pereira/modelo: Bruna S.