quinta-feira, 2 de abril de 2015

para que lado olhava que não te via?


Algumas decisões vão sendo tomadas pelo corpo, nem sempre é possível precisar como tudo começou, se alastra pela gente como uma corrente, porque o desejo arrasta tudo o que vê pela frente, cercas, muros, portas apenas encostadas e até aquelas que estão à sete chaves trancadas. Não foi o beijo, foi a ciência de que te beijaria, aquele momento em que se presta mais atenção nos lábios se movendo do que nas palavras que estão dizendo. Mas ainda é algo antes disso, antes do beijo, antes de sentir que te beijaria, quando tudo o que ela diz passa a ser poesia e você se pergunta “para que lado olhava que não te via?” porque caminhávamos pelas mesmas empoeiradas livrarias, pelas mesmas salas de cinema vazias, tudo que nos aproximava ao mesmo tempo nos distraía. Mas agora “acordo” e sinto que ela está presente, não como algo que toco sempre, porque dentro, como se meu corpo existisse apenas para envolver este sentimento, que busco a todo custo proteger dos efeitos do tempo - porque quem já viveu antes sentimentos semelhantes sabe como é difícil mantê-los imensos como neste momento. Foto dela: Laura.