terça-feira, 5 de junho de 2007

meu livro sobre você

Olha – a beleza é apenas isto. O resto – um poeta que venha e invente. Eu já me cansei de mais disfarces – prefiro descobrir o que é suave tocando. Eu não nasci com habilidades para um milhão de coisas mas me apaixonar é algo que eu faço bem. Ontem mesmo escrevi o nome de outra no meu peito – hoje eu rabisquei o seu por cima. Não acredite em quem diz que é para sempre – é melhor que seja para já, neste exato instante, agora! – pegou o espírito da coisa? Eu sei que sim, você é uma garota esperta, já vivemos isto antes.

Olha – é fácil de me convencer. Bastam pernas como as suas. E você pensando que precisava ler inteiro o livro que eu te dei. Era só um teste. Queria saber até onde você estava disposta a ir. Pelo menos adquiriu um pouco mais de cultura. E sei que foram horas agradáveis – Kundera é uma ótima pedida nesta idade. Vai me agradecer mais tarde quando for viver uma outra história que não a nossa. Desculpe, não devia ter dito isto. Comigo é assim, não tive intenção de ser cruel, mas tudo um dia chega ao fim – até este seu fôlego todo pra cima de mim que você chama de amor.

Olha – eu já sei porque vim ao mundo. Foi por pernas como as suas. Acha que é muito pouco? Pode ser. No mundo há os que nasceram para serem grandes e outros com bem menos heroísmo. Vai ver é aí que eu me encaixo. Meu livro sobre você não pretende ser um novo “Ulysses”. James Joyce para sempre será lido e discutido, eu só quero que você me beije e me ame mais algumas noites – isto e eu já estou em larga vantagem sobre o irlandês.

foto: Ricardo Pereira/modelo: Cátia Elétrica