segunda-feira, 18 de junho de 2007

era para ser a última noite da Terra

Não, amanhã não será perfeito, amanhã será uma droga e esse gosto amargo na boca. Hoje era para ser a última noite da Terra, quando tudo é permitido, foi o que eu sonhei no caminho do trabalho até em casa e pensei em todas as mulheres que é preciso conhecer, em todos os vinhos que nos aguardam em tonéis, em todas as músicas que existem para tocar, em todos os hotéis baratos que ficam no caminho do trabalho até em casa.

Ela me ligou dizendo que fugiria da escola, estava lendo umas coisas incríveis, queria ser atriz, queria ser louca, queria subir pelas paredes, queria aprender a fumar, queria ser domadora de leões, eu ria, ria dela e não podia parar. Era tudo sério, ela me explicava como faria com uma felicidade empolgante, fazia gestos, escrevia no ar, dançava, subia no sofá, ela não se continha da vontade de falar. Tudo era urgente, fazer amor era urgente, questionar Deus era urgente, escrever um romance era urgente – ah como eu queria estar ainda dentro dela no último instante.

A gente sabia que não tinha mais tempo para nada, tudo seria inútil, tudo desmoronaria em questão de segundos, os impérios, as leis, a moral judaíco-cristã, monumentos, estátuas de bronze, símbolos de heroísmo, arquiteturas sofisticadas, tudo no caminho do trabalho até em casa.
Foto: Ricardo Pereira/modelo: Simone Klaus