domingo, 10 de junho de 2007

pode brincar comigo que eu lhe alcanço

Para onde você está me levando? Tenho o direito de perguntar. Não, não é medo do que me espera. Há muito perdi qualquer ilusão de que amar seja seguro. Eu sou do tempo em que amor para ser amor necessitava algo de violento por isto carrego tantas cicatrizes pelos velhos tempos. Mas, você não estava lá, não pode saber de nada, você é jovem demais para certas idéias loucas que eu tenho na cabeça.

Eu já estive aqui antes mas não era você, estou achando tudo meio familiar – as dúvidas, a apreensão, mesmo esta ansiedade natural de quando se cava fundo um mistério. Eu disse o mistério que é você? Primeiro conduz minha mão até onde estão guardados os seus melhores segredos, depois quando sente que eu já lhe descrevo perfeitamente bem, inventa-se de novo: a pele, a cor dos cabelos, a voz e a paixão.

Sei que não deveria perder mais tempo com estas histórias. Preciso me concentrar numa única idéia, seguir com ela até o fim, mas qualquer novo perfume é suficiente para me despertar o aventureiro e quando digo um nome no poema posso estar dizendo outros tantos que ouvi aqui e ali. Enquanto eu quiser lhe serei leve, pode brincar comigo que eu lhe alcanço. Um dia me canso, você também se cansa de mim, não serei mais capaz de lhe traduzir as “novidades”, precisará de outro poeta e eu de outra que não se conheça tão bem para seduzir.

foto: Ricardo Pereira/modelo: Cátia Elétrica