domingo, 28 de junho de 2009

a estudante

para uma jessica

O que você está olhando, ela quis saber. Eu estou me apaixonando pela mulher que você vai ser. Eu estou imaginando onde quero estar daqui há alguns anos e ao lado de quem – ao lado de quem você se tornar. Eu estou fazendo planos para nós dois enquanto você se veste para ir à faculdade. Penso nos autores que vai ler e no que vamos conversar depois, as descobertas que vai fazer entre aquelas páginas que eu sequer havia pressentido. Em seus lábios cada vez mais próximos dos meus e no gosto que eles vão ter do vinho que ajudou-me a escolher, nos poemas que vai me fazer escrever entre uma aula e outra e em como vou subir as escadas correndo só para saber qual será a sua reação depois de ler. Vejo os filmes que quero que assista, se vou mudar seu ponto de vista ou apenas te entreter, nos jogos que fará comigo e em como vou me sair, no nosso primeiro apartamento e o que faremos com todos os meus livros. Em suas tentativas de fazer o jantar e como vai sorrir no dia em que acertar o primeiro suflê, na bagunça que vai ser a nossa vida e até nas pequenas brigas que vamos ter. Nas fotografias de uma viagem e na sua pose para a posteridade, na estudante de vinte anos de idade que nunca deixarei de ver na mulher que você vai ser. Foto dela para mim.

domingo, 21 de junho de 2009

nesta cama e em pensamentos

A noite de hoje já era, não pode mais dormi-la comigo, temos tão pouco tempo se você não se importa, a vida ficou maior do que pretendíamos, já não cabe somente nos planos que fizemos para nós: você se vestiria para que eu a despisse, eu lhe faria poemas que ninguém mais ouvisse e faríamos amor nesta cama e em pensamentos. Seus vinte-e-cinco anos já se foram, não posso mais fazer parte deles, conta algo que eu não saiba, alguma parte do seu corpo que eu ainda não toquei, podemos ser felizes a partir de agora, não importa onde errou, onde errei, podemos começar tudo do zero, antes e depois deste beijo como se apaixonar-se por alguém fizesse todo o resto – da mágica. Minhas histórias, outras mulheres, não posso apagá-las da memória, nem da pele, nem desmentir os muitos ‘eu te amo’ que disse até agora, nesta cama e em pensamentos; mas posso aprender com você novos significados, porque tudo é uma questão de escrever na vida do outro como queremos ficar marcados – e até onde eu sei, este arrepio no seu corpo fui eu quem provoquei. Foto dela: Bárbara.

domingo, 14 de junho de 2009

a jovem de ontem

Não cabe tudo numa vida só, tudo o que gostaríamos, todas de quem gostamos, por isso precisamos nos reinventar a todo instante, fazemos o mesmo com quem já tivemos, criamos histórias para nós uma vez que não temos como voltar o tempo para tocá-las novamente onde queremos, todos sentimos saudade de algo que nunca vivemos, depois de alguns anos sentiremos saudade como se tivéssemos realmente vivido com cada uma delas em todos os seus detalhes – é que algumas paixões de tão fundamentais conseguem a proeza de nos manter aquecidos mesmo que delas não existam qualquer outro vestígio senão o que ainda sentimos. No fim, já não sabemos o que pertencem a elas e o que emprestamos de outros corpos com os quais as fomos substituindo, vamos juntando tudo o que sabemos como se o sexo tivesse aquele gosto que guardamos sem nem desconfiar que aquele gosto mistura cada uma que provamos. O amor não é algo que esgotamos, depois que acaba, o que esteve em nós continua nos assombrando, a jovem de ontem me fez lembrar tanto você que chegará um dia em que só me lembrarei de você através da jovem de ontem, da boca dela e do que ela me disse como se fosse você me dizendo a mesma tolice, o mesmo eu te amo – que você, talvez, nunca tenha me dito, mas que eu continuo escutando. Foto: Ricardo/ dela: Renata.

domingo, 7 de junho de 2009

por causa do frio

para ela gabriela

A gente é só amigo, mas, às vezes, por causa do frio, dormimos juntos. E ela me conta do cara com quem esteve algumas noites atrás e eu da mulher que ainda amo, faço votos de que ela consiga e ela me beija a fronte. E o sexo entre nós é só a prova de que temos algo bonito e que nada nos impede já que a vida é dos que a vivem, não estão nem aí com o que podem pensar. Se ela atende o celular eu paro o filme, deixo que conversem, finjo que vou pegar algo na cozinha, dou um tempo para que ela decida como quer prosseguir. Quando volto ela tem aquela expressão que a gente faz quando nem tudo sai como se queria, um abraço resolve muito, um beijo resolve muito mais. E certos segredos que só eu sei sobre o seu corpo e ninguém mais de tanto tempo que eu a conheço naquela cama, em outras, nas duas vezes que tentamos e não deu certo e como rimos bastante disso depois. Porque ela se ajeita junto a mim até seu corpo caber perfeitamente entre o meu, não do mesmo jeito que a mulher que ainda amo caberia, mas de um jeito que me esquente e eu a ela nesta noite fria. Foto dela: Helen.