Para Raquel Drummond
Eu queria que você não desse tanta importância. Nem tomasse como algo pessoal. Fui com você como fui com todas. Ninguém teve a mais. Parece que não mas tenho princípios. Esta é a minha ética por mais cabeluda que ela lhe possa parecer. Não se culpe que eu não lhe culpo. Nem me culpe que eu não enganei você um minuto sequer. Fui sempre bastante sincero, você sentiu isto cada noite que passou comigo. Sei que quer passar mais algumas, eu também, a gente dá um jeito, mas você leva a sua vida e eu a minha. Eu sempre estarei aqui para você. Cabe a você vir ou não. Eu te amo assim do meu jeito. Acontece que há muito que elas me provocam. Bem antes de você descobrir que eu existia. Não precisa brigar comigo porque eu não sou perfeito. Eu sei que daqui há algum tempo eu nem estarei na sua lista de telefones e minha voz não a fará mais tremer de paixão. Eu sei como funciona estas coisas. Sei porque já cortei meus pulsos infinitas vezes. Eu queria que você saísse por aquela porta perfeita como entrou. Eu não te tratei como mais uma e você se apaixonou. Leu meus livros, trechos do meu romance, quis fazer parte dele, escrevi algumas linhas sobre você, revelarei só mais tarde quando tudo for história e você vai sorrir numa tarde da sua vida numa livraria em pé como se aquelas palavras fossem um sussurro no seu ouvido que você procura ao redor para saber se mais alguém escutou. Eu deixo você ir embora mas você insiste em ficar. Tudo bem, esteja à vontade, a casa continua sendo sua, mas na minha cama tem mais lugar: quero aproveitar o espaço. Não sei por quanto tempo mais vou estar inteiro. Tenho ficado velho ganhando dinheiro. Antes eu era mais livre, não tinha quase para nada, mas dava um jeito. Agora que eu tenho para gastar as coisas estão mudando de sabor, preciso aproveitar o que resta de doce naquilo que sobrou. Claro que eu quero mais um. Quantos você quiser me dar. Não sei recusar. Acho que se soubesse tudo se resolveria mais facilmente mas eu não sei, minha carne é óbvio que é fraca, mas nem a mais e nem a menos do que às dos outros mortais. Você decide se participa ou se finge que não escuta. Não dá para abaixar o som. A vizinhança que se dane e o que ela quiser pensar. Não pense que não é difícil para mim admitir o quanto cedo fácil às tentações. O quanto sou também pequeno, vulgar, humano. Só não quero lhe enganar. Muito menos me trair. Já aconteceu e você sabe. Não tem porque disfarçar. Não, não era uma prima de longe que veio me visitar. Foi você quem quis entender assim. Lembra quando você era a prima de longe que vinha me visitar? Não fazia esta cara que faz agora. Dizia que na calada da noite era mais gostoso mesmo que isto significasse à uma da tarde. Antes de começarmos sabia bem em que estava se metendo. O que eu prometi eu cumpri. Suas amigas lhe falaram de mim. Com quantas delas eu já havia estado? Duas, três. Duvido que elas só me tenham feito elogios. Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Cátia Elétrica
Eu queria que você não desse tanta importância. Nem tomasse como algo pessoal. Fui com você como fui com todas. Ninguém teve a mais. Parece que não mas tenho princípios. Esta é a minha ética por mais cabeluda que ela lhe possa parecer. Não se culpe que eu não lhe culpo. Nem me culpe que eu não enganei você um minuto sequer. Fui sempre bastante sincero, você sentiu isto cada noite que passou comigo. Sei que quer passar mais algumas, eu também, a gente dá um jeito, mas você leva a sua vida e eu a minha. Eu sempre estarei aqui para você. Cabe a você vir ou não. Eu te amo assim do meu jeito. Acontece que há muito que elas me provocam. Bem antes de você descobrir que eu existia. Não precisa brigar comigo porque eu não sou perfeito. Eu sei que daqui há algum tempo eu nem estarei na sua lista de telefones e minha voz não a fará mais tremer de paixão. Eu sei como funciona estas coisas. Sei porque já cortei meus pulsos infinitas vezes. Eu queria que você saísse por aquela porta perfeita como entrou. Eu não te tratei como mais uma e você se apaixonou. Leu meus livros, trechos do meu romance, quis fazer parte dele, escrevi algumas linhas sobre você, revelarei só mais tarde quando tudo for história e você vai sorrir numa tarde da sua vida numa livraria em pé como se aquelas palavras fossem um sussurro no seu ouvido que você procura ao redor para saber se mais alguém escutou. Eu deixo você ir embora mas você insiste em ficar. Tudo bem, esteja à vontade, a casa continua sendo sua, mas na minha cama tem mais lugar: quero aproveitar o espaço. Não sei por quanto tempo mais vou estar inteiro. Tenho ficado velho ganhando dinheiro. Antes eu era mais livre, não tinha quase para nada, mas dava um jeito. Agora que eu tenho para gastar as coisas estão mudando de sabor, preciso aproveitar o que resta de doce naquilo que sobrou. Claro que eu quero mais um. Quantos você quiser me dar. Não sei recusar. Acho que se soubesse tudo se resolveria mais facilmente mas eu não sei, minha carne é óbvio que é fraca, mas nem a mais e nem a menos do que às dos outros mortais. Você decide se participa ou se finge que não escuta. Não dá para abaixar o som. A vizinhança que se dane e o que ela quiser pensar. Não pense que não é difícil para mim admitir o quanto cedo fácil às tentações. O quanto sou também pequeno, vulgar, humano. Só não quero lhe enganar. Muito menos me trair. Já aconteceu e você sabe. Não tem porque disfarçar. Não, não era uma prima de longe que veio me visitar. Foi você quem quis entender assim. Lembra quando você era a prima de longe que vinha me visitar? Não fazia esta cara que faz agora. Dizia que na calada da noite era mais gostoso mesmo que isto significasse à uma da tarde. Antes de começarmos sabia bem em que estava se metendo. O que eu prometi eu cumpri. Suas amigas lhe falaram de mim. Com quantas delas eu já havia estado? Duas, três. Duvido que elas só me tenham feito elogios. Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Cátia Elétrica