sábado, 16 de junho de 2007

o nome da mulher na minha cama

Qual será o nome da mulher na minha cama? Será que ela o disse? Eu sei que perguntei mas estava entretido demais com minha mão descendo pelas suas costas para prestar atenção em algo tão formal. O problema é que agora não me lembro se disse mais do que deveria. Quais promessas terá ouvido da minha boca? Segui o plano do começo ao fim ou adaptei o velho esquema à situação? Lembro da música, algo bobo, ana carolina para ser mais exato. Ela veio para o meu lado. Estava com um amigo. Mais dela do que meu. Talvez de nenhum dos dois. Sei que nos apresentou. Tudo bem? Tudo bem. Disse que era bonita. Era mesmo. Não estava brincando. Ela riu. Achou que eu era “outro”. Outro desses caras baratos que circulam pela noite em busca do que fazer. Nada disso, my dear, eu tenho princípios, eu li Stendhal, eu sei falar vamos fazer amor em mais de dez línguas, você nem sonhava em ir além da esquina quando eu já voltava da estrada. Não me confunda. Eu sei que estou embriagado, corro o risco de falar muita bobagem mas pudera esta festa é um saco, esta gente toda é um saco, eu nem sei como vim parar aqui, você sabe dirigir?, quer ouvir uns discos lá em casa?, vamos fazer amor em mais de dez línguas?

E ela que não acorda. É dez da manhã. Chacoalho ela ou deixo que ela fique morando aqui para sempre? Tem umas pernas lindas. Dá vontade de escrever uma canção de amor olhando daqui de onde estou. Será que vim ao mundo para fazer alguma outra coisa além disso? Não sei, não sei mesmo, e aquela encheção de saco toda chamada “tese de doutorado”? Será que sou eu querendo aparecer? Não vou mudar o mundo mesmo com nada do que eu escrever. De que me serve mais um título? Tenho diploma de tudo o que é coisa e não me sinto nenhuma delas. Eu só quero conversar sobre livros e me apaixonar incansavelmente. É pedir demais. Não incomodo ninguém. Depois das dez até abaixo o volume. Eu sou um santo. O diabo nunca sugeriu comprar minha alma, eu também nunca toquei no assunto com ele, deixo que ele entre no corpo das garotas comigo e faça a noite tremer. Este último terremoto de que falaram tanto começou assim. Quando a garota sai do transe está purificada, durante alguns minutos não faz a mínima idéia de quem é nem de onde está, olha para você como se fosse Alice que acabou de acordar no País das Maravilhas.

Fizemos a maior bagunça; Tem roupa espalhada por tudo o que é canto da casa. Não encontro meu sapato. Na calcinha dela, atirada fora da cama, está escrito “for you” na parte detrás. Não tinha visto antes. Faço um “este mundo está perdido” com a cabeça. Puxa que mulher mais baixa. Vai para a cama com o primeiro homem que lhe diz que sabe falar vamos fazer amor em mais de dez línguas. Como é que eu pude “ficar” com uma mulher assim? Tudo bem que ela é demais. Mas isto não é desculpa. Acho que a gente nem se entendeu, isto é, nem conversamos direito, tirando tapas no traseiro eu nem sei do que ela gosta.

Pelo menos não tive que convidar para jantar, levar ao cinema, fazer algum comentário elogioso sobre como ela fica ótima naquele vestido ou dizer como os olhos dela são lindos. Falando nisso qual é a cor dos olhos dela? Merda, vou ter de dizer algo quando ela acordar, nada estúpido que se refira a noite passada, ela dormiu comigo e só, vai embora como se nada tivesse acontecido, melhor assim, a gente troca os telefones como se fosse ligar um para o outro. Eu desço com ela até o carro, comento algo sobre o clima, ela vai me oferecer os lábios para um beijo, eu a beijo sem me demorar muito, ela sorri, pisa na embreagem, engata primeira e pisa no acelerador. Um último aceno e nunca mais nos veremos, caso cruzemos de novo pela noite fingimos que tudo é uma grande novidade e porque foi bom podemos fazer tudo de novo mas seremos cuidados, ela pode estar com alguém, eu posso estar com alguém, é uma das claúsulas do contrato que implicitamente assinamos, está lá nas letras pequenas. Mas agora esquece, você não pode se atrasar porque tem milhões de coisas para fazer e depois é noite e começa tudo de novo. Outra garota sem nome. Mas hoje para variar um pouco vou procurar alguma que tenha peitos grandes. Enormes de preferência.
Foto: Ricardo Pereira/modelo: Érica