sábado, 8 de junho de 2019

aquela noite


Eu sabia que aquela noite ela queria ser minha, claro que eu sabia, mas eu tinha que a proteger de mim, outro no meu lugar, talvez, não o fizesse, mas eu sou assim. Fui honesto como sempre sou, apresentei-lhe todos os meus chicotes e algemas, tudo que prende e rasga, tudo que sufoca e engasga, tudo que parece amor, mas é dor. Mostrei a diferença entre quem eu era e quem ela imaginava, destruí tudo o que a encantava, para que ela soubesse onde pisava, quem era o homem com quem estava. Ela vinha de um amor que acabava, podia ter me aproveitado disso porque já a comia com os olhos e esta minha fome a reclamava, mas a vesti e levei em casa. Ela está naquela idade de ser inconsequente, por isso se arriscara, eu não queria afastá-la, apenas pôr tudo às claras, como seria entre a gente, se era o que ela queria ou aguentava, o que podia ter em troca do que me dava. Ela terá tempo para pensar, dou a ela o tempo que precisar, tempo que ela tem mais do que eu, a vida dela está só no começo, ainda pode ser quem bem entender, eu já sou, não tenho mais o que resolver, o que ela espera do amor não é o que eu espero nem quero – achei que ela devia saber antes de se envolver. Foto dela: F. Weiler.