segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

o que 'ainda' sentimos

Acontece que a gente não joga tudo fora, sempre guarda alguma coisa, um pedaço de papel por menor que seja, o primeiro verso que me veio a cabeça. Fui te ver achando que não a reconheceria mais como se tivesse passado anos, mas me lembrei de cada segredo que seu corpo disse ao meu, é impossível não ver um filme passando toda vez que nossos olhos se encontram, nem se perguntar porque sua boca não toca mais a minha quando seus lábios se aproximam do meu rosto - ainda posso sentir o gosto. Cheguei mesmo a pensar que não, mas ainda podemos conversar durante horas: não esgotamos todos os assuntos; não é porque não dormimos mais juntos que não quero saber a sua opinião, não demora e estamos num canto isolados do restante da festa, imaginando o que estarão pensando, rimos daquilo, rimos e não rimos, não chegamos a uma conclusão definitiva a respeito do que 'ainda' sentimos - como se o que 'ainda' sentimos pudesse ser só uma embriaguez, uma música que ouvimos, um comichão. Confesso que só vim porque achei que viria, foi assim que me convenceram, se saísse com a V... com quem você acha que eu a ficaria comparando, ela não merece isso: é doidinha, me faz rir, até que está se esforçando. Estou tentando escrever sobre ela em cima daquilo que escrevi sobre você, mas é difícil cobrir todas as linhas, ainda não tem a mesma poesia - às vezes, interrompo o que estou fazendo e fico te lendo como só eu te via - pena que ninguém mais vai saber. Uma noite eu queria que sentássemos e conversássemos, não da vontade que temos de fazer porque a vontade que temos de fazer é a mesma vontade de fazer que todo mundo tem em noites como esta, mas sobre o que deixou em mim que eu queria saber se existe como devolver, já que não consigo mais 'tocar' ninguém sem lembrar que não 'toco' mais você. Foto: Ricardo/ dela: Carla.

domingo, 1 de novembro de 2009

até mesmo onde nem está

Tenho te visto em todos os lugares. Dos mais comuns aos menos prováveis, às vezes, até mesmo onde nem está. Como se esperasse a melhor oportunidade, fosse me surpreender a qualquer instante. Se isso não é sinal de alguma coisa, eu não sei mais o que é. Chego a ter a impressão que de você existem milhares, todas vindo na minha direção, algumas mais firmes em seu propósito, outras me deixando para mais tarde, gostaria que fosse verdade e que cada uma me ocupasse todo o tempo, como já ocupa meus pensamentos – que enquanto uma de você se vestisse para ir a faculdade, outra ficasse o resto da manhã. Você passa por mim no trânsito, canta uma canção no rádio do carro, faz propaganda da Duloren nos out-doors espalhados pela cidade. Sinto seu perfume quando entro no elevador, acho que me segue se ouço passos no corredor, na secretária eletrônica quantas vezes me ligou, cada vez com uma voz diferente, a cada nova mensagem ficava mais urgente. Se houvessem tantos de mim quantas parecem haver de você, seríamos milhares de casais fazendo amor ao mesmo tempo enquanto outros de nós espiariam da janela de seus apartamentos. Foto dela: Érica Simone.

sábado, 10 de outubro de 2009

duas mulheres

para francine, regina, carla

Eu já estive aqui, isto é, já senti que era o fim, encontro-me no mesmo ponto de uma outra história, como se fosse um déja vu – não é assim que se diz? Só que desta vez sou eu quem se levanta da cama, quem não consegue dormir, é como se refizesse uma cena que ficou gravada só que na pele de outra personagem contra a qual antes eu me debatia: se é que me deram a chance de fazê-lo, faço o mesmo agora? – pergunto-me. Espero você acordar ou me visto devagar, um milhão de coisas passa pela minha cabeça: quem eu quis matar quando era eu no seu lugar, como eu quis morrer, meus amigos vão se lembrar, jurei que nunca mais deixaria acontecer. Mas você aconteceu – você que nada tinha a ver com o que aconteceu corre o risco de ser quem vai pagar, afinal. Se eu soubesse não tinha deixado que nos apresentassem, nem te olharia de cima abaixo como se quisesse saber o que me aguardava se eu me jogasse, como terminava aquela tatuagem que você tinha acima do púbis, minha boca salivava de curiosidade. Hoje eu acordei e seu corpo pesava sobre o meu, como se eu fosse sufocar, não tenho forças, não tenho mais como te carregar, eu sou assim mesmo – lembra como eu me impressionei com cada uma de suas tatuagens, uma mais linda que a outra, demorou para eu criar coragem, você me ajudou a escolher que desenho seria: uma borboleta que depois que pousasse nunca mais me deixasse. Pensei em fazer um café para nós, um carinho nos seus cabelos, dobrar suas roupas e guardar no armário, nada muito especial, nada que te faça perguntar se há algo errado, que eu precise fingir não ter escutado. Foto: Ricardo/ dela: Carla.

domingo, 4 de outubro de 2009

onde quer que esteja nesta noite

Acho que ninguém ficou no seu lugar, apenas troquei os lençóis, o cigarro pela goma de mascar. Estou vendo filmes num cinema completamente vazio, a essa hora do dia só você podia. Depois de algumas músicas já não quero mais dançar – e pensar que nenhuma noite terminava antes das seis. Não é difícil conhecer alguém e levá-la para casa, só esta semana foram três. Os nomes esqueci em algum lugar, no bolso de uma camisa, podem ter caído atrás do sofá. Não estou dizendo que exista muito mais do que isso, mas às vezes quando se roda durante um bom tempo por um mesmo caminho fica mais difícil de retornar. É verdade que não chegamos a nenhuma grande cidade, nenhuma em que quiséssemos morar, mas passamos ótimas noites – se me lembro bem – em alguns hotéis de beira de estrada, pensamos até em fazer um guia, anotamos nomes, fizemos pequenas cotações, tíramos mil fotografias, algumas não dá para publicar, não neste horário. Às vezes não faço força alguma, deixo-me levar como se fosse num carro cheio de grandes amigos e quando me vejo estou dizendo bobagens para um ouvido qualquer, algo mecânico e que tirei de um velho disco, apenas porque não terei a vida inteira e preciso aproveitar que ainda exista quem esteja alta o suficiente para achar meu papo atraente, sei que você age exatamente igual nesta noite – nesta noite onde quer que esteja. Onde quer que esteja nesta noite meu corpo a deseja. Quem foi embora? Quem ficou no seu lugar? Estou me fazendo perguntas antes dela acordar. Foto dela: Lady.

sábado, 26 de setembro de 2009

chove

para alini numa manhã linda de sol

Está chovendo, mas você disse que vinha assim mesmo, mas quando disse que vinha assim mesmo não estava chovendo ainda, fazia uma manhã linda de sol e para mim fazia uma manhã linda de sol porque você viria. Mas tudo acontece comigo, inclusive chover quando não deveria, por isso esse meu ar de que o mundo todo conspira contra, mas você disse que eu fico linda emburradinha e às vezes eu fecho a cara diante do espelho só para imaginar o que diria. Você está atrasado, mas você disse que talvez atrasaria, que tinha de passar num outro lugar antes de vir para cá, eu queria que você viesse correndo, se eu fosse você eu correria, não teria nada mais importante nesse dia, nesse e nos outros dias. Será que você sabe o que eu estou pensando nesse exato instante, se fosse no meu corpo eu saberia, minha pele toda arrepiaria, acho que você acaba de pensar o mesmo que eu porque me deu um calor na espinha. Estou lendo o livro que você disse que eu gostaria, já li mais da metade e não entendi porque, deixei umas partes grifadas que quero perguntar para você, será que sou diferente de como me vê? Às vezes me irrito de saber que o carro que acaba de dobrar a esquina não é o seu, outras vezes, estranhamente, fico feliz que não seja, é como se eu temesse aquilo que o meu corpo deseja, não quero que esse sentimento tome conta de mim, tampouco quero que desapareça. Foto dela: Queen Jane.

domingo, 20 de setembro de 2009

ninguém nos chama de baudelaire

para alice

Não temos ninguém, somos os únicos que sobraram, todo o resto já foi dormir a esta altura do campeonato. Te dei uma carona e te beijei antes que deixasse o carro. Há, pelo menos, duas horas já fazíamos uma idéia de onde aquela noite terminaria, apenas disfarçávamos e ríamos, acho que era uma festa à nossa volta, chegou um momento em que a gente não se concentrava mais, apenas balançava a cabeça positivamente, tínhamos outras coisas em mente, não me lembro de termos nos despedido de ninguém, você fez um sinal com a sobrancelha e eu te acompanhei, nem sei quantas ruas atravessamos até chegarmos aqui, você me dava coordenadas estranhas, enquanto cantarolava uma canção do rádio. O que você acha de aproveitarmos que estamos os dois sozinhos, que ninguém nos ama, que ninguém nos quer, que ninguém nos chama de baudelaire* e continuar o que pensamos junto lá dentro? Tenho música e cigarro. Posso te mostrar onde quero uma tatuagem e você me diz se acha melhor mais em cima ou mais embaixo. Suas amigas foram passar o final de semana com os namorados. Não são minhas amigas, apenas dividimos o aluguel. Uma estuda geografia e a outra morre de inveja da sua coleção de sapatos.
Foto: Ricardo/ dela: Alice.


* Referência aos versos do samba-canção “Ninguém Me Ama”, de Antonio Maria e Fernando Lobo e ao poema de Isabel Câmara.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

eu sei quando é você

Eu sei quando é você. Posso te prever há quilômetros de distância. Pensando num livro para mim. O que dizer então quando prestes a entrar por aquela porta, ter-me em suas mãos. Gosto como você me entende, numa rápida explicação, decifra-me e devora; das vezes que te reconheço em algo que eu digo como se aquelas palavras que aprendi ontem a noite contigo sempre tivessem sido parte do meu vocabulário, da minha forma de ser, de estar no mundo, como algumas de suas manias que eu tomo emprestadas: tirar fotografias da cama em que dormimos, pela manhã, toda desarrumada. Eu sei quando é você, se o telefone toca às dez e trinta, se um carro dobra a esquina, se minha pele arrepia, se do meu corpo se aproxima, se me conheço bem. Tanto faz a hora que você vem, se demora ou se bem perto, o meu relógio e o seu estão sempre certos, parecemos em sincronia. Você me chama a atenção para os detalhes nas histórias, o porque daquela luz naquela cena, como fazer de um dia como qualquer outro o verso de um poema – e quando eu acho que acabou você ainda faz aparecer um moeda atrás da minha orelha. Foto: Ricardo/ dela: Renata.

domingo, 23 de agosto de 2009

seu corpo sabe

O que me atrai não é o quanto já nos conhecemos, mas a sensação que tenho de que podemos ser ainda melhor. Não é a noite passada, o gosto bom que ficou, mas até onde vamos com esta história, quantas vezes esse beijo se repetirá e meu corpo estará com o seu. Saber que tudo é tão rápido, que a semana não é feita somente dos dias em que lemos os pensamentos um do outro, embora pareça, de tanto que pode durar um segundo quando este é único no mundo, fica indo e vindo, tantas vezes, na nossa cabeça. Você me pede que dê todos os detalhes, onde estávamos, como tudo começou, diz que tem noites que não sabe se acordou do meu lado ou se sonhou. Procuro ser fiel ao que eu sinto, não quer dizer que eu minto, apenas que não me importa mais de que cor era o seu vestido depois que o tirou, nem se não foi bem isso que sussurrou em meu ouvido, com as mesmas palavras exatamente, algo indecente que transformo numa jura de amor. Você me ouve atenta como se quando eu contasse aquilo ganhasse outro sabor, tanto faz se invento, exagero, faço poesia do que se passou, seu corpo sabe a verdade, seu corpo sabe que não imaginou. Foto dela: Duda.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

um amor.

Nem bem chegou, ela já foi embora. Temos vivido assim ultimamente: de pequenas doses. Sei, não é o suficiente, mas o pouco que embriaga faz com que esqueçamos que amanhã só em pensamentos. Ela me conta do que o corpo sente falta e que eu tenho sobrando, das músicas que guarda onde ninguém a toca, vontades que vêm do nada em meio ao livro que sugeri e como hoje aqui comigo parece que está sonhando de tão exato e cúmplice. Faz planos que nunca sei se são só da sua cabeça, uma forma de me manter com ela onde quer que esteja; juro que pensei que desta vez nos estranharíamos, mas bastou alguns minutos para vermos que ainda somos os mesmos. Ela me pede que guarde segredo de todo o resto, que não há nada que precise saber além do que o seu corpo deseja, são só por algumas noites que nos teremos, que quando voltar, no fim do ano, discutimos o que quer que seja. Até lá tudo perde a importância, tudo que não tenha lugar nessa cama; lembro que sou eu quem vai ter de conviver com aquele seu cheiro nos lençóis, nos travesseiros, toda vez que nela me deitar e ela me lembra que nem isso, que nem meu cheiro em sua cama terá. Foto dela: Hannah.

domingo, 2 de agosto de 2009

just like honey

para ler, de preferência, ao som de Just Like Honey

O que você tem? Nada. Ela perguntou e eu respondi. (Está do seu agrado assim ou dois personagens só não bastam? Não sou bom com multidões). Posso colocar uma música para alegrar o ambiente? Os discos estão ali, apontei. Ela foi procurar o que ouvir, achou um vinil empoeirado do Jesus & Mary Chain, Psycho Candy, de quando eu tinha a idade dela e ela nem tinha fumado o primeiro cigarro. Uma amiga me falou desses caras, a Letícia, disse que eu a conhecia, acho que sim. Era domingo e só chovia. Aquela era a única vida que eu tinha. Ela aos dezenove e eu beirando os trinta. Ela e sua tatuagem que nem o pai sabia. Juventude não é muito mais do que isso hoje em dia. Ela é de verdade, mas quando eu escrevo sobre ela gosto de pensar que é poesia. O tempo faz isso com a gente. Tudo de certa forma já aconteceu trocentas vezes e você apenas respira. Às vezes um beijo te surpreende, mas no geral você já conhece todos eles. Uma queria seios maiores, outra acabou de chegar da europa, aquela da praia, esta só come salada, mas os corpos são mesmos estes, alguma timidez aqui, nenhuma ali e você já se deitou com todos eles. O tempo é como contemplar o mar. Depois de alguns minutos o mar é só a ‘massa de águas salgadas do globo terrestre’ e você precisa inventar o resto dele, histórias com piratas, os olhos de quem te faz lembrar. Ela pede que eu traduza o que estão cantando, seu inglês não é tão bom quanto o meu. Mas o vocal é baixo, sussurrado, as guitarras mais pesadas, a bateria, não dá para entender tudo, então improviso, faço uma versão do que estou ouvindo como se fosse uma tradução do que estou sentindo.
Foto: Ricardo/ dela: Duda.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

não me olhe assim

Não me olhe assim que eu me lembro de tudo o que já fizemos nesta cama e em outras e amanhã vai ser mais difícil ainda da gente se despedir. Esta era para ser a última noite e já faz quantas noites que estamos aqui? Foi você quem sugeriu ‘uma última noite’, disse que se o sexo era bom por que deveríamos abrir mão. Eu ainda te quero, mas não lhe darei outra vida que não esta, você ainda me quer, mas acha que é pouco; combinamos que não ter mais uma gaveta aqui para as suas coisas não a impede de vir, peço apenas que me avise antes de subir, para o caso de haver uma outra história rolando – não precisa fazer esta cara, se somos adultos, ajamos como tal. É natural que durante um tempo ainda fique com o seu cheiro, não posso fingir que não a respiro, mas o amor é uma coisa, outra é o desejo: pois quando penso numa boca ainda é a sua boca que eu beijo. Entenderei se suas pernas continuarem trazendo você aqui, não se muda um hábito da noite para o dia e você se acostumou com o meu corpo mais do que gostaria, também é como se tirassem uma parte de mim. Diz que se sente um pouco perdida, eu também, mas não nos esqueçamos, que foi porque seguimos com as nossas vidas que nós nos trombamos. Foto: Ricardo/ dela: Hellen.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

29 beijos

para ler de preferência ao som de 29 Beijos

Fiquei apenas uma hora, se muito. A festa era dela. Os amigos eram dela. Ninguém ali precisava me conhecer melhor, queria apenas dar-lhe um beijo, dizer que continuo por perto, que vi algo em minha última viagem que me fez lembrar dela, comprei e trouxe comigo, sabia que seu aniversário estava próximo, parece que foi há tanto tempo e você só fez vinte e três anos. Nem pudemos conversar direito, mas eu entendo, tinha de dar atenção a todos, combinaremos uma tarde dessas, tarde que há muito estamos nos prometendo – e pensar que eu te arrastava comigo para todos os lugares, os ‘meus’ lugares, aqueles de que gosto e quis que dividisse comigo, onde eu te mostrei os segredos que guardo em meio aos meus livros preferidos, disse coisas embriagado do desejo de te tocar profundamente, onde fizemos amor docemente; e cada dia se parecia mais comigo, tive medo que se parecesse mais do que era preciso, mas você se saiu melhor do que eu, vejo isso no modo como termina tudo com um grande sorriso, entendo os que se aproximam de você, os que estão em volta, que se apaixonam por você, eu já sabia antes como sei agora, de quando te ligava no celular perguntando se já estava a caminho, eu dizia não demora, tenho vinte e nove beijos pra lhe dar* – da música do novos baianos que eu gostava de tirar no violão e você me ouvir cantar, gritando mais que o moraes. Achei melhor sair sem me despedir, você ia de um lado para o outro, eu começaria a falar, a me explicar, só te atrapalharia, já fiz o que tinha de fazer, vi o que tinha de ver, alguns amigos que apresentei a você na sua estante, na música que tocava e até no seu jeito de falar e de ser, fechei a porta atrás de mim comovido por um dia ter prendido sua atenção, seus olhos brilharem, a boca na minha, posso me lembrar disso quando quiser. A noite estava fria, meu carro estacionado do outro lado da rua, mas você me alcançou antes que eu a atravessasse, abraçou-me de um jeito que não tinha feito naquela noite, a cabeça junto ao meu peito por alguns segundos no mundo, o cheiro dos seus cabelos me fez querer escrever sobre, este pequeno texto; não perguntou porque estava indo embora tão cedo, nem insistiu para que eu ficasse, apenas disse "espero lhe ver, lhe encontrar, tenho vinte e nove beijos pra lhe dar". Foto dela: Bárbara.

*verso da música 29 Beijos, de Moraes Moreira e Galvão. Ouça aqui.


terça-feira, 14 de julho de 2009

provocante

para vanessa gross

Estava aqui lendo os seus segredos. É que para mim eles estão todos publicados na sua pele de sol, na cor dos lábios e até no olhar que desvia do meu – bastou querer enxergá-los. Você nem se lembra da última vez em que te perguntaram algo além do número do seu telefone, sente-se um pouco enferrujada, muda de assunto desconfiada de que as palavras contenham armadilhas e que um sujeito como eu deve manipulá-las muito bem, mas eu não atiro para todos os lados, sei onde miro, por que e em quem. E eu lhe pergunto o que faz com este vermelho nos lábios se esta noite não beijarem ninguém e a tatuagem que disse que tem, para que ser tão colorida se seus olhos são os únicos que a vêem? Eu sei que sou como todos os homens, mas sei que sou como só eu posso ser também. Já sei o que te faz como todas as mulheres, mas me apaixono pelo que nenhuma delas mais têm. Se você queria que a vissem como é de verdade para que se esconder atrás de tanta maquiagem? Não estendo os meus braços por estender, mas apenas para saber se você vem. Será que já viveu tantas vidas assim para se arrepender de viver a única que tem? Eu não estou querendo colocá-la contra a parede, mas até que não é uma má idéia, pensando bem. Posso descobrir do que tem medo só pelo modo como respira. E eu lhe pergunto para que provocar todos os homens se não aceita que a provoquem também? Foto dela: Vanessa Gross.

terça-feira, 7 de julho de 2009

as paredes

Ela queria saber que nome eu dava ao que eu sentia por ela, o que havia entre nós. Não havia muito o que responder: ora, você simplesmente se acostuma com o corpo do outro, a hora em que ele chega, as idéias que te faz ter e nem quer pensar como será se amanhã não tiver onde se agarrar, com o que se proteger, mas ainda assim não dá o braço a torcer – faz-se de forte sem poder ser. Disse que ela era livre para ir, que eu não a impediria de se vestir e sair, foram suas pernas quem a trouxeram aqui. Mas como ela já estava nua e na minha cama, resolveu ficar. A esta hora da noite, deve ter pensado, nem saberia onde procurar. Fizemos então, desta vez sem nenhuma grande maluquice, apenas numa posição em que ela pudesse me olhar nos olhos, foi o que me pediu e eu atendi. Não sei o que ela pretendia ver, nem o que eu deveria disfarçar, não havia nada em jogo, apenas a vontade de jogar. A gente se impressiona um pouco, dá um tempo em outras histórias, fica imaginando como seria com aquela, até onde ela iria, depois que descobre como é, apaga a luz e tenta dormir, o mundo não precisa de vocês dois, não do que vocês sentem um pelo outro para existir. Na noite seguinte ela ainda está aqui, ainda se pergunta o porque de estarem juntos e vocês fazem mais uma vez como que para mudar de assunto. Foto: Ricardo/ dela: Quel.

domingo, 28 de junho de 2009

a estudante

para uma jessica

O que você está olhando, ela quis saber. Eu estou me apaixonando pela mulher que você vai ser. Eu estou imaginando onde quero estar daqui há alguns anos e ao lado de quem – ao lado de quem você se tornar. Eu estou fazendo planos para nós dois enquanto você se veste para ir à faculdade. Penso nos autores que vai ler e no que vamos conversar depois, as descobertas que vai fazer entre aquelas páginas que eu sequer havia pressentido. Em seus lábios cada vez mais próximos dos meus e no gosto que eles vão ter do vinho que ajudou-me a escolher, nos poemas que vai me fazer escrever entre uma aula e outra e em como vou subir as escadas correndo só para saber qual será a sua reação depois de ler. Vejo os filmes que quero que assista, se vou mudar seu ponto de vista ou apenas te entreter, nos jogos que fará comigo e em como vou me sair, no nosso primeiro apartamento e o que faremos com todos os meus livros. Em suas tentativas de fazer o jantar e como vai sorrir no dia em que acertar o primeiro suflê, na bagunça que vai ser a nossa vida e até nas pequenas brigas que vamos ter. Nas fotografias de uma viagem e na sua pose para a posteridade, na estudante de vinte anos de idade que nunca deixarei de ver na mulher que você vai ser. Foto dela para mim.

domingo, 21 de junho de 2009

nesta cama e em pensamentos

A noite de hoje já era, não pode mais dormi-la comigo, temos tão pouco tempo se você não se importa, a vida ficou maior do que pretendíamos, já não cabe somente nos planos que fizemos para nós: você se vestiria para que eu a despisse, eu lhe faria poemas que ninguém mais ouvisse e faríamos amor nesta cama e em pensamentos. Seus vinte-e-cinco anos já se foram, não posso mais fazer parte deles, conta algo que eu não saiba, alguma parte do seu corpo que eu ainda não toquei, podemos ser felizes a partir de agora, não importa onde errou, onde errei, podemos começar tudo do zero, antes e depois deste beijo como se apaixonar-se por alguém fizesse todo o resto – da mágica. Minhas histórias, outras mulheres, não posso apagá-las da memória, nem da pele, nem desmentir os muitos ‘eu te amo’ que disse até agora, nesta cama e em pensamentos; mas posso aprender com você novos significados, porque tudo é uma questão de escrever na vida do outro como queremos ficar marcados – e até onde eu sei, este arrepio no seu corpo fui eu quem provoquei. Foto dela: Bárbara.

domingo, 14 de junho de 2009

a jovem de ontem

Não cabe tudo numa vida só, tudo o que gostaríamos, todas de quem gostamos, por isso precisamos nos reinventar a todo instante, fazemos o mesmo com quem já tivemos, criamos histórias para nós uma vez que não temos como voltar o tempo para tocá-las novamente onde queremos, todos sentimos saudade de algo que nunca vivemos, depois de alguns anos sentiremos saudade como se tivéssemos realmente vivido com cada uma delas em todos os seus detalhes – é que algumas paixões de tão fundamentais conseguem a proeza de nos manter aquecidos mesmo que delas não existam qualquer outro vestígio senão o que ainda sentimos. No fim, já não sabemos o que pertencem a elas e o que emprestamos de outros corpos com os quais as fomos substituindo, vamos juntando tudo o que sabemos como se o sexo tivesse aquele gosto que guardamos sem nem desconfiar que aquele gosto mistura cada uma que provamos. O amor não é algo que esgotamos, depois que acaba, o que esteve em nós continua nos assombrando, a jovem de ontem me fez lembrar tanto você que chegará um dia em que só me lembrarei de você através da jovem de ontem, da boca dela e do que ela me disse como se fosse você me dizendo a mesma tolice, o mesmo eu te amo – que você, talvez, nunca tenha me dito, mas que eu continuo escutando. Foto: Ricardo/ dela: Renata.

domingo, 7 de junho de 2009

por causa do frio

para ela gabriela

A gente é só amigo, mas, às vezes, por causa do frio, dormimos juntos. E ela me conta do cara com quem esteve algumas noites atrás e eu da mulher que ainda amo, faço votos de que ela consiga e ela me beija a fronte. E o sexo entre nós é só a prova de que temos algo bonito e que nada nos impede já que a vida é dos que a vivem, não estão nem aí com o que podem pensar. Se ela atende o celular eu paro o filme, deixo que conversem, finjo que vou pegar algo na cozinha, dou um tempo para que ela decida como quer prosseguir. Quando volto ela tem aquela expressão que a gente faz quando nem tudo sai como se queria, um abraço resolve muito, um beijo resolve muito mais. E certos segredos que só eu sei sobre o seu corpo e ninguém mais de tanto tempo que eu a conheço naquela cama, em outras, nas duas vezes que tentamos e não deu certo e como rimos bastante disso depois. Porque ela se ajeita junto a mim até seu corpo caber perfeitamente entre o meu, não do mesmo jeito que a mulher que ainda amo caberia, mas de um jeito que me esquente e eu a ela nesta noite fria. Foto dela: Helen.

terça-feira, 26 de maio de 2009

nome de flor

Agora você está aqui, mas daqui a pouco não estará mais. Nem para me dizer quando volta nem porque não pode ficar. Com o que será que sonha?, gostaria de conhecer esse lugar, mas fazer amor contigo, dividir por algumas noites a mesma cama, é o mais perto que me deixa chegar, conheço cada centímetro do seu corpo, cada centímetro e o que o arrepia, mas mais do que isso você não me deixa penetrar. Toca o telefone no meio da noite, era você a uma da manhã, queria me ver, nunca diz se é saudade, necessidade, uma música que acabou de ouvir. Digo que tudo bem, que pode vir. Eu passo aí – e desliga. Pode ser que você chegue aqui no próximo minuto, já esteja até subindo as escadas, mas também que demore, quando eu já tiver perdido as esperanças. Volto alguns passos na direção do quarto como que para me certificar de que não se acordou de um sonho – e lá está você: nua, entre os lençóis. Posso te proteger por algum tempo, mas nunca é o suficiente. Sei que quando eu voltar do trabalho, só encontrarei um bilhete, algo sobre a noite que tivemos, assinado seu nome de flor. Foto: Ricardo/ dela: Gabi L.

domingo, 24 de maio de 2009

reais e imaginários

para polly di e gustavo santiago, reais e imaginários

Fugimos – se é assim que vocês gostam de chamar. Mas não nos pergunte do que como se alguém precisasse ter culpa. Foi mais simples do que isto e talvez por isso mesmo mais difícil de entender. Tínhamos a tarde livre e decidimos respirar um pouco. Foi já na estrada que entendemos que não tinha como voltar atrás. E nem foi algo que discutimos, apenas nos entreolhamos e dissemos ‘vamos’ como que concordando com algo maior do que nós. Estamos em outra cidade, o nome eu não vou dizer, alugamos um quarto, nem pediram para ver nossas identidades, mas daqui uma semana o dinheiro acaba, amanhã mesmo vou procurar um emprego, não dá para viver de pequenos delitos: falo de tabletes de chocolate quando não tem ninguém olhando. Ele quer ser escritor, eu sonho que me desenha nua, depois, de noite, ficamos conversando sobre onde gostaríamos de estar dali dez anos, aquilo nos aquece mais que o cobertor surrado que arranjamos. Gosto de pensar que nos apaixonamos de verdade, que certos livros que lemos falam de pessoas como nós, que realmente existiram, viveram tudo aquilo e estão agora em algum lugar e não personagens inventadas por algum escritor, algo que se sonhou e não se levou a sério como, sabemos, bem podemos ser. Foto de Carol Sweet.

domingo, 17 de maio de 2009

depois de um ano

Aonde quer que eu vá, você também estará indo, na escada rolante, no elevador subindo. E até nos países que visito, reais ou imaginários, das páginas dos livros. Você desce comigo para jogar o lixo, caminha sob a luz da lua, debaixo de todos os vestidos é você a mulher que imagino nua. Seu nome nos poemas que escrevo como se não fossem para outra pessoa, seu gosto na minha escova de dentes, seu perfume no meu sabonete, deixa vestígios por onde passa que apenas eu entendo, que por menores que sejam acabarei vendo: do seu cigarro de cereja só a fumaça esvaecendo. Quando voltamos para casa sozinhos, abre uma garrafa do melhor vinho e ajuda-me a escolher os discos que ouvirei na madrugada. E até na cor dos olhos, no desenho dos lábios, nos cabelos pintados de loiro da nova namorada. Quando vem para a cama com a gente torna nossas noites ainda mais quentes. Eu não estou falando de algo distante, estou falando de algo presente que quem me toca sente, mal sabem elas que é seu cheiro em mim que me fez atraente. Foto: Ricardo/ dela: Gabi L.

sábado, 9 de maio de 2009

a juventude dela

Ela mentiu sobre a idade. Disse que já estava na faculdade, deu o nome de um curso com o qual sonhava. Gostei dos livros que dizia ter lido, parecia verdade. Quis levar ela comigo, fazer a minha parte até que o mundo se torne grande demais e nos afaste. Um dia ela vai me telefonar de longe. Um dia ela vai perder meu número. Eu terei me aquecido por algumas noites, nunca espero mais do que isso. O amor não pode ser algo no qual você se agarra quando ele vai embora. O amor é algo no qual você acredita quando beija, toca, recebe de volta. A juventude dela é um privilégio que me foi concedido. Não verei no que ela se transformará, mas fecho os olhos e imagino, com que corte de cabelo e em que vestido. Até o filme que está passando atrás. Mas voltemos à Terra, onde os pés estão, antes que eu me perca, antes que eu a perca, soltemos as mãos. A música estava alta demais, não entendia metade do que ela dizia, mas depois de alguns segundos não era no que ela dizia para me impressionar que eu me concentrava, mas em como seus lábios se moviam e quanto tempo demoraria para num beijo deixá-la sem ar. Naquela noite eu disse que voltaria. Na manhã seguinte ela colocou algumas roupas e cedês na mochila e só teve que esperar dez minutos na esquina onde ficamos de nos encontrar. Foi o tempo de esvaziar algumas gavetas. Foto: Ricardo/ dela: Renata.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

um quarto

Eu sei a parte que me cabe nessa história, não estou pedindo nenhum minuto a mais, espero no quarto por volta de meia-hora depois que ela vai embora, combinamos que assim seria mais prudente, o que sentimos é algo só entre a gente, não podemos (nem queremos) ser como os outros casais. Compramos no mesmo supermercado, paramos na mesma banca de jornal, vou em toda festa que ela vai, mas sempre nos esbarramos como se nossos encontros fossem os mais casuais, já fomos apresentados dezenas de vezes por quem nem desconfia que nos conhecemos até demais. Nunca perguntei o que ela sente, o que seu corpo me diz já é suficiente, mas o que era só um dia da semana, está ficando cada vez mais freqüente, tem horas que me telefona e não diz uma palavra, isto basta para eu saber que é urgente, pode ser que tudo acabe de repente, que eu passe a comprar em outro supermercado, assine o Estado, evite as mesmas festas, mas isto é algo sobre o qual nunca se conversa, não temos muito tempo, estamos sempre com pressa, então vamos logo ao que interessa. Não é o amor o que aqui se pretende, isto já vivemos com pessoas diferentes, apenas uma aventura, eu diria, inocente, diante de tanta falta de sentido na vida da gente. No carro parado em algum congestionamento, eu penso o quanto é inútil aquele vai e vem ao nosso redor; ela aumenta o volume do rádio para ouvir uma notícia, mas depois esquece o que havia de tão importante. Pode ser que ela arranque sua roupa em questão de segundos ou quem sabe peça por peça bem devagar, nem sempre é como a gente quer, preciso voltar ao trabalho, ela buscar a filha no balé. Foto: Ricardo/ dela: Lara.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

da intimidade que havia e outras histórias

Acho que nunca acaba, apenas descansa ou quem sabe somos nós dando uma outra chance a si mesmos. Depois que quebra pela enésima vez não adianta mais ficar consertando, é como escrever uma história apenas com o que ficou para contar, como estou fazendo agora, você inventa o resto da forma que mais o agrada já que não tem com o que provar e mesmo quem poderia contestar nem interessado mais está. Engraçado que ainda assim a gente escreva com a esperança de que o outro saiba, com as palavras que ninguém mais entende, os códigos que criamos embaixo do chuveiro. Não é o amor mais que desejamos, nem o sexo, nem que batimentos cardíacos sejam alterados por nossa causa, isto conseguimos atravessando a rua, dizendo meia-dúzia de palavras, sentimos falta da intimidade que havia, da cumplicidade, do sacrifício que fazíamos e que é tão difícil de saber quando, a hora certa. Eu tenho saudade das conversas que tínhamos, das coisas que me fazia dizer, expressões infantis que ainda hoje me deixam tímido, você queria saber todos os meus livros, os nomes que aprendeu comigo e como ria de algum mais difícil de dizer. Eu sei que isto é uma mistura de tudo o que já senti na vida e você faz parte disso, hoje deu de ser a protagonista e isto me deixou comovido, acho que eu só queria que você soubesse que o seu cheiro no que eu sinto não passou despercebido. Foto dela: Aretha.

domingo, 5 de abril de 2009

às vezes nos encontramos, outras não

"... we can talk about the streetlights..."
(Josh Rouse)
Elas estão por toda parte, às vezes nos encontramos, outras não, nunca se sabe. Pode ser que ela não tenha lido todos aqueles livros apenas para conversar sobre eles comigo durante toda uma tarde, mas gosto de pensar que sim, descobrimos que temos gostos parecidos, autores preferidos quase que pelos mesmos motivos e a gente se apaixona por isso e as coisas acontecem naturalmente, como se tivessem de ser daquele jeito, exatamente. Não se pode prever quando nos encontraremos, naquela tarde eu só tentava me esconder da chuva que começara de repente, entrei no primeiro café que vi pela frente e lá estava ela lendo Anna Karenina compenetradamente, não pude deixar de lembrar que foi assim que Tomás conheceu Tereza em A Insustentável Leveza do Ser, eu tinha que dizer-lhe aquilo, ela sorriu, sabia da história, andava com aquele Tolstói de cima para baixo propositadamente, a espera de que as coisas acontecessem naturalmente, como se tivessem de ser daquele jeito, exatamente. E descobrimos que estivémos nas mesmas festas, num show do Josh Rouse, a ponto de nos tocar, só ficou faltando um amigo que pudesse nos apresentar - e quem sabe essa noite já tivesse acontecido muito mais vezes do que a gente possa imaginar, mas esta noite ainda está tomando um capuccino em algum lugar, esperando que a chuva comece de repente, esperando que eu entre no primeiro café que veja pela frente e que você olhe na direção da porta toda vez que ela se abre, às vezes nos encontramos, outras não, nunca se sabe. Foto dela: Monalise.

terça-feira, 24 de março de 2009

notícias à-toa

Escreva, ela me pede, é simples, você tem meu endereço, papel, caneta, sei onde os guarda, na segunda gaveta junto dos poemas que não me disse, das fotos que não ficaram boas, lugares que ficou de me levar. Não me fale do que tem ou não saudade, prefiro notícias à-toa, nem boas nem más. Conte-me que hora tem acordado, quero saber se ainda temos os mesmos horários, de que lado da cama tem dormido agora que não a divide mais comigo. Quantos cigarros têm fumado por dia, quanto tempo demora para uma nova poesia e o seu romance – em que pé está? Não esquece de me avisar quando será publicado. Falando em livros o que tem lido? Algum novo autor que mereça ser conhecido? Tem uma livraria perto de onde trabalho, às vezes passo por lá carregando você comigo, meu gosto e o seu foram ficando tão parecidos. Costumo ouvir nossos discos enquanto preparo o jantar, você abria uma garrafa de vinho, eu fazia uma salada de tudo o que a gente gostava, deu vontade de perguntar se tem se alimentado direito, fiquei de ensinar você a cozinhar. Tem ido ao cinema? Voltou ao nosso bar? Sabe alguma piada que possa me contar? Eu quero rir, eu quero ficar sem ar, eu quero me vestir de uma cor que sei que ia gostar. Mas não me escreva uma linha sequer sobre a mulher com quem você está, não me diga nada sobre a cor de seus cabelos, os móveis que ela mudou de lugar, quero tudo igual como me lembro, com a torneira da pia do banheiro ainda por consertar. Foto dela: Lara.

quarta-feira, 18 de março de 2009

foi para isso que viemos

Vamos dizer que foi apenas uma carona. A gente ia para o mesmo lado – o que não deixa de ser verdade. Natural que, no caminho, falássemos do passado. Das viagens que fizemos, das noites que tivemos, o que trazemos guardado. Notou que eu não tirava os olhos dos seus lábios? Eu queria beijá-los ali mesmo, só esperava o momento certo, quando estivéssemos apenas você e eu, queria evitar comentários do tipo eles voltaram. Soube que você se separou recentemente, você me diz que já faz mais de um ano, eu não estou mais saindo com aquela advogada, nem sei de que advogada você está falando. Você me pede que entre à esquerda no fim da rua, está morando na casa que foi dos seus pais, pergunto deles, estão bem, pergunto por perguntar, no fundo estou pensando que aquela será a primeira vez que faremos amor depois de sete anos. As crianças foram passar o final de semana com o pai, não consigo te imaginar como mãe, não neste vestido, muito menos sem ele. Nossos corpos são velhos amigos, se reconhecem na cama, o tempo nos mudou e mudou o que sentimos, não temos mais ilusões sobre o amor, aceitamos a honestidade do sexo, foi para isso que viemos. Foto: Ricardo/ dela: Renata.

terça-feira, 10 de março de 2009

a última pessoa no mundo

“... no dia em que fui mais feliz/ eu vi um avião se espelhar no seu olhar até sumir...”
(Antonio Cícero)

Era a última pessoa no mundo que eu esperava ver no dia de hoje. Você disse ‘estou na cidade’ como quem diz ‘em cinco minutos, estou aí’. Eu não tinha como dizer que não. Dei uma ajeitada no cabelo, vesti algo decente, demorei algum tempo na frente do espelho, decidia se fazia a barba ou não e o que você acharia – mas que bobagem a minha. Parece até que está de volta. Como se a vida tivesse disso. Eu estou apenas no seu caminho. Vamos conversar sobre o que anda fazendo, eu não farei muitas perguntas, não quero descobrir muita coisa, se está feliz, se foi melhor assim, talvez até mude de assunto, o calor dos últimos dias, o resto de bolo na geladeira. É do meu aniversário, você sabe e me trouxe um presente. Tira da bolsa um embrulho. Nem preciso abrir para saber que é um livro e algo que provavelmente não vou conseguir ler mais do que os primeiros capítulos, mesmo com você dizendo que ‘leu, gostou e se lembrou de mim’. Posso dizer cada segredo seu, lembrar de cada vestido que despiu para mim, cada noite e música que tocava, cada vez que voltava de uma viagem mais longa e você ainda não sabe os gostos que tenho, que livro comprar para mim. Mesmo assim seguro seu braço quando faz menção de partir. Você volta e me dá um beijo – um beijo que dura seis anos e sete meses se fizermos as contas direito. Estou pensando nisso – estou aqui fazendo as contas – enquanto seu táxi ainda está na Doutor Arnaldo, parado em algum semáforo. Foto dela: Karine.

domingo, 1 de março de 2009

eu me lembro de você nesta cama

Eu me lembro de você nesta cama enquanto troco o lençol, a fronha dos travesseiros. Parece que ainda posso ouvir a música que nossos corpos compunham quando fazíamos amor. Começava num ritmo lento, depois ia crescendo. Muita coisa se passou, lembro e me esqueço, mas às vezes você me invade como se eu nunca mais tivesse sido o mesmo. Dentre as camisas no armário, escolho a última que me comprou, só depois é que percebo, lembro de quantas vezes a desabotoou, da sua boca no meu peito. Nunca tínhamos tempo, mas você dizia que dava tempo e a gente saía para o trabalho com um sorriso de orelha a orelha. Escuto no rádio do carro que o trânsito segue lento, calculo quanto tempo daqui até o jornal e daqui até seu apartamento. Escrevo sobre a crise mundial e o bom desempenho do governo, mas o que eu queria mesmo era rabiscar um poema de como me lembro. O telefone toca pouco para o meio-dia, um convite para almoçar, sinto a sua falta, mas preciso continuar comendo. Talvez eu vá ao cinema, talvez eu volte mais cedo, talvez escreva seu nome no corpo de outra mulher com a ponta dos dedos, ela me pergunte o que escrevi e eu diga que é segredo. Cheguei a pensar que era você quem cantarolava agora no chuveiro, mas esta não tinha aquele seu sotaque do rio de janeiro. Eu me lembro de você nesta cama enquanto troco o lençol, a fronha dos travesseiros. Foto: Ricardo/ dela: Quel.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

pequenas histórias de amor

Eu escrevo pequenas histórias de amor e também coleciono os brincos que elas esqueceram aqui. Tenho um vidro colorido no fundo do armário. Isto se você quiser saber o que faço. Eu monto enredos a partir dos segredos que me sussurraram em meio à noite e dos tocos de cigarro no tapete do quarto. Não posso me lembrar de cada sentimento, começo, meio e fim, mas posso juntar as peças do quebra-cabeças que me deixaram. Posso trocar a cor dos seus olhos, o vestido que usava, o dia da semana e posso alterar tantos outros detalhes quantos forem necessários se entender que isto torna mais atraente a história que narro, a que vivi não preciso mais modificar, a pele já sabe como e onde guardar. Posso abrir a porta do quarto para que você espie a mulher que na cama dorme e posso fazer com que você se identifique com este corpo, mesmo que entre nós tudo tenha se passado num outro cenário, em hotéis mais elegantes, sem barulho de trânsito, num outro horário. Porque há um momento em que a vida é também algo que você sonha mesmo que esteja acontecendo de verdade, é quando você não acredita que tenha aquele gosto, que seja possível naquela parte do corpo, que uma hora antes você se preocupava com o imposto do seu carro. Nenhuma poesia supera isso, apenas resgata do seu limbo temporário porque às vezes esquecemos o que sentimos no porta-luvas bagunçado, numa gaveta emperrada, nas roupas que enviamos para a lavanderia. Escrever é uma forma de ressuscitar no terceiro dia, quando não há mais embriaguez nem mesmo ressaca; é costurar bolsos rasgados, muitas vezes algo que ensaiamos dizer se perde assim; é lembrar onde deixei minhas chaves, para quando nos trancamos sem saber como sair; é uma forma de, pelo menos, salvarmos a melhor parte, quando não temos uma segunda chance de corrigir. Eu escrevo pequenas histórias de amor e também coleciono os brincos que elas esqueceram aqui. Foto: Emil.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

como num filme de vampiro

para aline monique

Digamos que você não me conheça, que eu seja apenas um corpo que você deseja, não tenha uma história ainda, um nome na sua língua, nenhuma amiga que nos tenha apresentado. E que você não precise por conta disso ter nenhum tipo de cuidado comigo, que me respeite pelo que eu te provoco e não porque votamos no mesmo partido. Esqueça tudo o que conversamos, quantos drinques já tomei – se é que está contando, meu lema nesta vida e que autores prefiro. Não quero você todo educado, apaixonado, preocupado com nada disso, quero você indecente, mostrando-me os dentes como num filme de vampiro. Há sempre um lado da gente que nem mesmo a gente conhece, por isso não se surpreenda se amanhã eu disser que não conheço a mulher que dormiu esta noite contigo. Sou uma personagem de carne e osso do seu livro. Deixo que escolha a cor do meu vestido mas se vou tirá-lo para você é algo que só eu decido. Não faz esta cara de quem não está entendendo: o feitiço virou contra o feiticeiro, querido. Agora é a minha vez de ficar por cima. Foto dela: Aline Monique.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

dentro de você ou acolá

Para ler de preferência ao som de “Flor de Ir Embora”

Você quis saber que música era aquela. Eu disse o nome e a cantora, pediu que eu a colocasse de novo, queria me guardar através dela. O filme podia acabar assim, alguém por favor apague a luz do set, depois disso não haveria mais personagem, só o que sentíamos, naquele sofá que faz barulho quando nos mexemos, duas xícaras de chá esperando esfriar, a gente pensando em tudo o que está acontecendo no mundo independente de querermos e as armas que temos para lutar.

Não posso protegê-la em meus braços pelo resto dos dias, passou-me pela cabeça que gostaria de tentar, mas perguntei-me o que você aprenderia, você pensa o mesmo, embora tenha descoberto naquele último segundo que nunca se sentiu tão confortável nos braços de alguém, como se seu corpo tivesse encontrado onde sempre quis estar, e acha injusto ter descoberto aquilo um segundo antes da gente se soltar. Bem na parte da letra em que a Fátima Guedes canta ‘agora esse mundo é meu’, você não sabe se deve partir ou ficar. Se o mundo é um lugar que você já conhece ou um outro que você precisa explorar. Dentro de você ou acolá.

Eu já vivi a sua vida dez anos atrás, eu já senti a mesma fome, sede e raiva e a mesma vontade de chorar ouvindo esta música quando eu não sabia onde queria estar e dei mil voltas até lhe encontrar e te contei tantas histórias que você quis sair para procurar onde começou cada uma delas e se é aqui comigo que vão terminar – fiz um mapa para você se perder e outro para você voltar, você só precisa escolher qual deles vai usar.
Foto:Ricardo/dela: Stella.



quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

abre uma janela

vamos fingir que não é com a gente?

Você está de volta. O que me conta de novo? Está linda neste vestido, me lembra o que já vivemos. Tenho sede e me apaixono, não sei guardar segredo. Não demora e nos beijamos, como se estivéssemos vendo o mesmo filme. A cidade é um convite, mas eu tenho muitos discos. O tapete da sala está aí para isso, assim como as almofadas. Não é o que estou dizendo, mas no que faço você pensar que nos aproxima. Que bom que me ligou, não achei que se importaria. Esqueci porque acabou, mas não do que havia. Ainda estou em débito contigo, muitas noites para colocar em dia. Acho que meus melhores poemas fiz em sua companhia. A gente era feliz, só eu que não sabia. Se tenho onde me agarrar por que não me agarraria? Se ela resolveu ficar por que eu me oporia? Sabemos como vão falar da gente aqui outra vez, mas para isso inventaram as cortinas. Se você casou e teve filhos, só não me mostre as fotografias. Vou acreditar em tudo o que disser, mesmo que seja mentira. Adoro essa música que começou a tocar, lembra os lugares que a gente ia. Não precisamos resolver tudo esta noite, apenas pedir uma pizza. Tenho uma garrafa daquele vinho, achei que você viria. Você faz aquela cara de quem têm seus pensamentos lidos. Daqui até minha cama o número de passos ainda é o mesmo. Foto: Ricardo/ ela: Érica.

domingo, 25 de janeiro de 2009

nem só de personagens vive um romance

... um raio pode até cair duas vezes no mesmo lugar, mas da segunda vez que cai deixa de ser uma novidade...

Gostei que tivesse vindo, eu contei os dias desde que soube que você apareceria pelos lados de cá, até deixei de atender o telefone, inventei que fui viajar, não queria que nada nos atrapalhasse, no último instante eu pediria para você ficar, de um jeito que não tinha como recusar, estava tudo planejado, mas não tive coragem, ou melhor dizendo, não tive vontade; nos beijamos e fizemos amor, mas nos beijamos e fizemos amor já sabendo que era tarde, um raio pode até cair duas vezes no mesmo lugar, o que explica a fome em nossos corpos, as marcas que ganhei e aquelas que deixei em sua pele, mas da segunda vez que cai deixa de ser uma novidade, isso explica nossa falta de assunto, o meu desinteresse por suas aventuras pelo mundo e o seu olhar perdido enquanto eu tentava me apaixonar pelo que tinha de mudado em você depois de um ano distante. Você vai embora sem saber que existiram noites que eu achei que não suportaria e eu vou me despedir de você sem saber da carta que não terminou porque demorei no banho menos tempo que previra – eu só fui encontrar o que começou a rabiscar na manhã seguinte quando fui pôr para fora o lixo da cozinha. Mas finalmente posso voltar a respirar, o seu perfume já me embrulhava o estômago, acho que você derrubou um vidro no dia em que chegou, pelo menos encontrei serventia para as velas aromatizadas que ganhei da Clara. Têm cheiro bom de alfazema. Dizem que ajuda a harmonizar o ambiente trazendo energias positivas. Eu não acredito nessas besteiras, mas agradeço o presente. Acho que vou atender o telefone se ele chamar, convidar a Jane para ir ao cinema, ver a Letícia tocar, revelar as fotos da última viagem, se me perguntarem onde estive todo esse tempo direi que fui ver o mar. E que você nunca esteve lá. Foto: Ricardo/ ela: Flora.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

vieste na hora errada

Você respira ao meu lado e eu sem cabeça para isso. Se fosse uma noite fria, eu pelo menos a abraçaria e talvez você acordasse de manhã convencida de que algo começou entre a gente, mas eu nem me lembro do seu nome embora você tenha me dito ele dezenas de vezes e eu nem sei sobre o que você está falando embora concorde com a cabeça como se acompanhasse atentamente. Ouço sua voz ao telefone e penso que é minha gerente do banco querendo me fazer uma proposta: vamos nos ver esta noite, sugere – e eu concordo desde que não falemos das minhas finanças. Descobri que você era bonita porque alguém perguntou quem era aquela morena bonita com quem me viu na última quinta, também descobri que você era morena dessa forma. Tive dificuldade para me lembrar de quem estavam falando, tive dificuldade para me lembrar quando foi a última quinta e onde estava que nos viram. Talvez você seja uma mulher incrível, tudo indica que sim, mas olho para você e só consigo ver quem você não é. E se você não é quem estava aqui antes, você só faz parte do cenário como as cinzas do cigarro, a noite pela janela, a tevê sem som, o restante da mobília, algo que me acontece e acaba. Vieste na hora errada*, corrijo a canção que o Ivan Lins cantava. Acho que precisava saber disso porque toda vez pode ser a última vez e eu não quero que você se culpe por aquilo que eu não sinto. Aquilo que eu sinto ainda está preso em outra história, falta poucas páginas, mas ainda não me decidi se quero descobrir se o fim será como imagino. Não me olhe assim como se eu fosse o seu poeta preferido, o verso que você acha que fiz para você eu já tinha ele escrito. Foto: Ricardo/ ela: Penélope Charmosa.

*Vieste na hora exata/ com ares de festa e luas de prata... (de Ivan Lins e Vitor Martins)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

aquele "F" sou eu

para Tay

Ouvi dizer que você anda por aí, neste mesmo mundo que eu, não sei se perto, não sei se ocupado a esta hora do dia, a caminho de casa escolho as ruas que acho são a sua cara e conheci uma cidade que eu nem sabia que existia mas que me lembram suas histórias, e tenho lido os livros que você menciona, me identificado com cada personagem, chorado e me apaixonado e tem frases deles que não me saem da cabeça e eu queria muito usá-las numa conversa com você, é que às vezes é como se eu ainda estivesse em suas páginas, visitando lugares que eu nem sei dizer direito o nome ao motorista do táxi e tenho ligado na rádio e pedido as músicas que sei que você ouve e tenho usado um pseudônimo quando faço isso, Holly Golightly, você vai entender, e tenho cantado junto com você cada letra, assobiado cada melodia e tenho dançado com amigos que faço em festas e tenho me deitado com corpos que nem sei se com o seu se parecem, mas tenho feito amor com eles como se fizesse contigo, mas eles nem sabem porque fui tão selvagem, porque me entreguei daquele jeito, é algo que eu nem sei direito prever quando vai ocorrer quanto mais explicar sem dizer o seu nome, e tenho vestido roupas em que talvez você goste de me conhecer e tenho me despido para o espelho como se fosse para você e tenho gostado mais do que vejo quando acho que você me vê e tenho conhecido gente diferente, gente estranha, gente esquisita, gente que eu sei que você gostaria e temos falado alto e feito bagunça de noite e quem sabe isto acorde o seu vira-lata e você venha até a janela saber do que se trata e temos dirigido por avenidas na hora em que elas estão mais vazias e eu tenho encostado minha cabeça no ombro mais próximo como se fosse no seu que encostasse e tenho bebido nos mesmos bares que você freqüenta e tenho pedido o mesmo drinque trocando o rum por vodka como eu acho que você faria e descobri a mesa em que você se senta e a letra do seu primeiro nome feita com canivete na madeira e escrevi ao lado dela a primeira letra do meu mas ficou parecendo outra, por isso não estranhe aquele “F” ao lado do que escreveu – aquele “F” sou eu. Foto dela: Tay.

domingo, 4 de janeiro de 2009

a falta que faz

2008 que não termina


Depois que acaba você pensa se não era melhor que nunca tivesse acontecido. Fica a sensação de uma história incompleta a cada novo passo que se dá, é algo que só você sabe que carrega e pesa mas que precisa continuar sorrindo da mesma maneira como se não estivesse lá; você não sabe se se afasta o mais depressa ou se permite que no corpo os sentimentos todos doam até quem sabe se acalmarem – a questão é: existe alternativa para a falta de ar?

Não haverá outra chance igual a esta, numa vida igual a esta, nas mesmas condições ideiais de temperatura e pressão, porque apesar de ser ‘macaco velho’ quando o assunto é amor, você nunca sabe quando algo começa e porque começa, nem se sente capaz de voltar ao estado que era antes dela te tocar porque a partir de agora no seu corpo você convive não com a sensação de onde ela te tocou mas de onde ela não vai mais te tocar, é como um fantasma na sua pele, você quer e não quer exorcizar, quer e não sabe, se alguém souber não me diga, a dor é minha amiga, ela me lembra dela e conversa comigo sobre ela, só dói porque é repetitiva, não conta as novidades, só o que ela já sabe: o que tivemos, como éramos, como termina.

A gente aumenta o volume da tevê para pensar em outra coisa e se sente mal quando percebe que o conflito na faixa de Gaza parece fichinha diante do conflito dentro de você. Noites inteiras não foram suficientes para tudo o que você sentia e agora você acredita que se tivesse pelo menos mais duas horinhas ela sentiria tudo o que explode dentro de você, coisas que podia ter dito, gestos que poderia ter feito, idéias que passaram pela sua cabeça, daquelas que dão um giro de 180 graus na sua vida e na dela. O problema de não se definir mais o que é amor hoje em dia é que quando é amor você não sabe mais como dizer, só descobre quando é tarde demais para saber. Daquele corpo que ora lhe tocava por descuido ora lhe tocava com paixão apenas a falta que faz, o frio que antes eu não percebia, a solidão de que eu já não me lembrava mais.
Foto: Ricardo/ dela: Stella.