Nem bem chegou, ela já foi embora. Temos vivido assim ultimamente: de pequenas doses. Sei, não é o suficiente, mas o pouco que embriaga faz com que esqueçamos que amanhã só em pensamentos. Ela me conta do que o corpo sente falta e que eu tenho sobrando, das músicas que guarda onde ninguém a toca, vontades que vêm do nada em meio ao livro que sugeri e como hoje aqui comigo parece que está sonhando de tão exato e cúmplice. Faz planos que nunca sei se são só da sua cabeça, uma forma de me manter com ela onde quer que esteja; juro que pensei que desta vez nos estranharíamos, mas bastou alguns minutos para vermos que ainda somos os mesmos. Ela me pede que guarde segredo de todo o resto, que não há nada que precise saber além do que o seu corpo deseja, são só por algumas noites que nos teremos, que quando voltar, no fim do ano, discutimos o que quer que seja. Até lá tudo perde a importância, tudo que não tenha lugar nessa cama; lembro que sou eu quem vai ter de conviver com aquele seu cheiro nos lençóis, nos travesseiros, toda vez que nela me deitar e ela me lembra que nem isso, que nem meu cheiro em sua cama terá. Foto dela: Hannah.