Eu sei quando é você. Posso te prever há quilômetros de distância. Pensando num livro para mim. O que dizer então quando prestes a entrar por aquela porta, ter-me em suas mãos. Gosto como você me entende, numa rápida explicação, decifra-me e devora; das vezes que te reconheço em algo que eu digo como se aquelas palavras que aprendi ontem a noite contigo sempre tivessem sido parte do meu vocabulário, da minha forma de ser, de estar no mundo, como algumas de suas manias que eu tomo emprestadas: tirar fotografias da cama em que dormimos, pela manhã, toda desarrumada. Eu sei quando é você, se o telefone toca às dez e trinta, se um carro dobra a esquina, se minha pele arrepia, se do meu corpo se aproxima, se me conheço bem. Tanto faz a hora que você vem, se demora ou se bem perto, o meu relógio e o seu estão sempre certos, parecemos em sincronia. Você me chama a atenção para os detalhes nas histórias, o porque daquela luz naquela cena, como fazer de um dia como qualquer outro o verso de um poema – e quando eu acho que acabou você ainda faz aparecer um moeda atrás da minha orelha. Foto: Ricardo/ dela: Renata.