terça-feira, 10 de março de 2009

a última pessoa no mundo

“... no dia em que fui mais feliz/ eu vi um avião se espelhar no seu olhar até sumir...”
(Antonio Cícero)

Era a última pessoa no mundo que eu esperava ver no dia de hoje. Você disse ‘estou na cidade’ como quem diz ‘em cinco minutos, estou aí’. Eu não tinha como dizer que não. Dei uma ajeitada no cabelo, vesti algo decente, demorei algum tempo na frente do espelho, decidia se fazia a barba ou não e o que você acharia – mas que bobagem a minha. Parece até que está de volta. Como se a vida tivesse disso. Eu estou apenas no seu caminho. Vamos conversar sobre o que anda fazendo, eu não farei muitas perguntas, não quero descobrir muita coisa, se está feliz, se foi melhor assim, talvez até mude de assunto, o calor dos últimos dias, o resto de bolo na geladeira. É do meu aniversário, você sabe e me trouxe um presente. Tira da bolsa um embrulho. Nem preciso abrir para saber que é um livro e algo que provavelmente não vou conseguir ler mais do que os primeiros capítulos, mesmo com você dizendo que ‘leu, gostou e se lembrou de mim’. Posso dizer cada segredo seu, lembrar de cada vestido que despiu para mim, cada noite e música que tocava, cada vez que voltava de uma viagem mais longa e você ainda não sabe os gostos que tenho, que livro comprar para mim. Mesmo assim seguro seu braço quando faz menção de partir. Você volta e me dá um beijo – um beijo que dura seis anos e sete meses se fizermos as contas direito. Estou pensando nisso – estou aqui fazendo as contas – enquanto seu táxi ainda está na Doutor Arnaldo, parado em algum semáforo. Foto dela: Karine.