terça-feira, 20 de janeiro de 2009

vieste na hora errada

Você respira ao meu lado e eu sem cabeça para isso. Se fosse uma noite fria, eu pelo menos a abraçaria e talvez você acordasse de manhã convencida de que algo começou entre a gente, mas eu nem me lembro do seu nome embora você tenha me dito ele dezenas de vezes e eu nem sei sobre o que você está falando embora concorde com a cabeça como se acompanhasse atentamente. Ouço sua voz ao telefone e penso que é minha gerente do banco querendo me fazer uma proposta: vamos nos ver esta noite, sugere – e eu concordo desde que não falemos das minhas finanças. Descobri que você era bonita porque alguém perguntou quem era aquela morena bonita com quem me viu na última quinta, também descobri que você era morena dessa forma. Tive dificuldade para me lembrar de quem estavam falando, tive dificuldade para me lembrar quando foi a última quinta e onde estava que nos viram. Talvez você seja uma mulher incrível, tudo indica que sim, mas olho para você e só consigo ver quem você não é. E se você não é quem estava aqui antes, você só faz parte do cenário como as cinzas do cigarro, a noite pela janela, a tevê sem som, o restante da mobília, algo que me acontece e acaba. Vieste na hora errada*, corrijo a canção que o Ivan Lins cantava. Acho que precisava saber disso porque toda vez pode ser a última vez e eu não quero que você se culpe por aquilo que eu não sinto. Aquilo que eu sinto ainda está preso em outra história, falta poucas páginas, mas ainda não me decidi se quero descobrir se o fim será como imagino. Não me olhe assim como se eu fosse o seu poeta preferido, o verso que você acha que fiz para você eu já tinha ele escrito. Foto: Ricardo/ ela: Penélope Charmosa.

*Vieste na hora exata/ com ares de festa e luas de prata... (de Ivan Lins e Vitor Martins)