domingo, 20 de setembro de 2009

ninguém nos chama de baudelaire

para alice

Não temos ninguém, somos os únicos que sobraram, todo o resto já foi dormir a esta altura do campeonato. Te dei uma carona e te beijei antes que deixasse o carro. Há, pelo menos, duas horas já fazíamos uma idéia de onde aquela noite terminaria, apenas disfarçávamos e ríamos, acho que era uma festa à nossa volta, chegou um momento em que a gente não se concentrava mais, apenas balançava a cabeça positivamente, tínhamos outras coisas em mente, não me lembro de termos nos despedido de ninguém, você fez um sinal com a sobrancelha e eu te acompanhei, nem sei quantas ruas atravessamos até chegarmos aqui, você me dava coordenadas estranhas, enquanto cantarolava uma canção do rádio. O que você acha de aproveitarmos que estamos os dois sozinhos, que ninguém nos ama, que ninguém nos quer, que ninguém nos chama de baudelaire* e continuar o que pensamos junto lá dentro? Tenho música e cigarro. Posso te mostrar onde quero uma tatuagem e você me diz se acha melhor mais em cima ou mais embaixo. Suas amigas foram passar o final de semana com os namorados. Não são minhas amigas, apenas dividimos o aluguel. Uma estuda geografia e a outra morre de inveja da sua coleção de sapatos.
Foto: Ricardo/ dela: Alice.


* Referência aos versos do samba-canção “Ninguém Me Ama”, de Antonio Maria e Fernando Lobo e ao poema de Isabel Câmara.