domingo, 2 de agosto de 2009

just like honey

para ler, de preferência, ao som de Just Like Honey

O que você tem? Nada. Ela perguntou e eu respondi. (Está do seu agrado assim ou dois personagens só não bastam? Não sou bom com multidões). Posso colocar uma música para alegrar o ambiente? Os discos estão ali, apontei. Ela foi procurar o que ouvir, achou um vinil empoeirado do Jesus & Mary Chain, Psycho Candy, de quando eu tinha a idade dela e ela nem tinha fumado o primeiro cigarro. Uma amiga me falou desses caras, a Letícia, disse que eu a conhecia, acho que sim. Era domingo e só chovia. Aquela era a única vida que eu tinha. Ela aos dezenove e eu beirando os trinta. Ela e sua tatuagem que nem o pai sabia. Juventude não é muito mais do que isso hoje em dia. Ela é de verdade, mas quando eu escrevo sobre ela gosto de pensar que é poesia. O tempo faz isso com a gente. Tudo de certa forma já aconteceu trocentas vezes e você apenas respira. Às vezes um beijo te surpreende, mas no geral você já conhece todos eles. Uma queria seios maiores, outra acabou de chegar da europa, aquela da praia, esta só come salada, mas os corpos são mesmos estes, alguma timidez aqui, nenhuma ali e você já se deitou com todos eles. O tempo é como contemplar o mar. Depois de alguns minutos o mar é só a ‘massa de águas salgadas do globo terrestre’ e você precisa inventar o resto dele, histórias com piratas, os olhos de quem te faz lembrar. Ela pede que eu traduza o que estão cantando, seu inglês não é tão bom quanto o meu. Mas o vocal é baixo, sussurrado, as guitarras mais pesadas, a bateria, não dá para entender tudo, então improviso, faço uma versão do que estou ouvindo como se fosse uma tradução do que estou sentindo.
Foto: Ricardo/ dela: Duda.