sábado, 7 de julho de 2007

a verdade depois do sonho

Estava dono do seu mundo mas não era importante nele, sequer pensava com a cabeça de um rei, apenas vivia a espera de que abrisse os olhos, amanhecesce o dia, descobrissemos a verdade depois do sonho. Deixamos a noite para trás como uma amiga que nos apresentou. Esta é a bailarina de que lhe falei. Este é o cara dos versos. Não nos prendemos a maiores explicações, tudo foi se ajeitando naturalmente: minhas teorias e a sua rebeldia, meus discos e a sua vitrola, meus livros e as suas melhores lembranças, meu corpo e a sua cama... e fizemos como se fosse brincadeira – hoje eu acordo e digo que te amo no lugar de bom dia e você não toma isto como um contrato, apenas parte da poesia.

Eu disse sério que estou de volta à velhos projetos de amor como poemas que foram guardados para serem terminados numa outra hora quando eu entendesse mais do assunto. Então tudo que deita na cama com sabor de novidade me dá a impressão de que já foi vivido intensamente, até o fim e que não passa de uma segunda chance que ganho. Em cada novo beijo experimento um doce gosto de déja vu, mas é mentira dos meus lábios, apenas quero de volta o que perdi, juntar os pedaços do que deixei partir por descuido ou paixões demais. Peço desculpas por trazer para esta cama todas as musas – reais ou imaginárias – que já cantei, mas não pude pensar de outra forma, foi o seu perfume que me trouxe todas de volta e o modo como é linda e acorda de manhã.

Venha se juntar a elas – eu lhe convido com a mão estendida. Faça parte do meu belo livro. Não posso abrir mão de tudo o que senti, sonhei e provei – seria negar a própria vida e estas velhas cicatrizes de guerra que não me deixam mentir; mas isto não significa que não possa aprender tudo de novo: meu coração, com exceção de dezesseis grandes amores, é praticamente zero quilômetro. Tenho fôlego de sobra para mais uma faculdade.
Foto: Ricardo Pereira/modelo: Lilia