Para Luina
Tudo não passa de uma brincadeira ou o nome que você quiser dar. Eu não me importo que seja uma bagunça. Já disse que estou livre. Não pertenço mais a nenhum lugar. De hoje em diante só quero quem fale a minha língua, cansei de ficar traduzindo o que eu estou sentindo para o mundo como se eu fosse algum tipo de poeta-profeta. Não tenho gogó para sermões da montanha. Prefiro sussurrar baixinho no ouvido de quem desejo: a revolução que eu planejo.
Devo à Luina – foi ela quem me iniciou. Eu estava inocente até os meus quatorze anos. Nada do que eu lia fazia muito sentido – era sobre reis e castelos no ar. Ela me ensinou a beber e me contou a história do jazz – parece que eu a estou ouvindo. Depois chegou uma amiga dela que eu conhecia de sonhos. Jogamos no dado para ver quem ia primeiro. Vivi um pouco e voltei para casa. Foi como um primeiro rascunho.
Todo mundo acha que sabe o que é o melhor para nós: o papa, o supremo, até a avó morta. Mas é no corpo da gente que a vida dói. Você está sentindo como se algo podre empesteasse o ar e a única felicidade possível fosse nesta cama em que nos deitamos? Eu sei que há belos e bons motivos para uma escapada até à rua – os realejos, certos tons de flores, maçãs do amor – mas não demoraria e tentariam nos convencer do contrário: de que não é possível resistir muito tempo se você não se enquadra. Eles que estão velhos e fedendo e que transformaram a beleza do mundo em algo que pode ser parcelado no cartão. Eu sei ser tão violento quanto uma criança que aprende a usar os dentes. Sou puro, Luina, foi você quem disse que eu era obsceno. Foto: Ricardo Pereira/ modelos: As Elétricas (Cátia e Kamille).
Tudo não passa de uma brincadeira ou o nome que você quiser dar. Eu não me importo que seja uma bagunça. Já disse que estou livre. Não pertenço mais a nenhum lugar. De hoje em diante só quero quem fale a minha língua, cansei de ficar traduzindo o que eu estou sentindo para o mundo como se eu fosse algum tipo de poeta-profeta. Não tenho gogó para sermões da montanha. Prefiro sussurrar baixinho no ouvido de quem desejo: a revolução que eu planejo.
Devo à Luina – foi ela quem me iniciou. Eu estava inocente até os meus quatorze anos. Nada do que eu lia fazia muito sentido – era sobre reis e castelos no ar. Ela me ensinou a beber e me contou a história do jazz – parece que eu a estou ouvindo. Depois chegou uma amiga dela que eu conhecia de sonhos. Jogamos no dado para ver quem ia primeiro. Vivi um pouco e voltei para casa. Foi como um primeiro rascunho.
Todo mundo acha que sabe o que é o melhor para nós: o papa, o supremo, até a avó morta. Mas é no corpo da gente que a vida dói. Você está sentindo como se algo podre empesteasse o ar e a única felicidade possível fosse nesta cama em que nos deitamos? Eu sei que há belos e bons motivos para uma escapada até à rua – os realejos, certos tons de flores, maçãs do amor – mas não demoraria e tentariam nos convencer do contrário: de que não é possível resistir muito tempo se você não se enquadra. Eles que estão velhos e fedendo e que transformaram a beleza do mundo em algo que pode ser parcelado no cartão. Eu sei ser tão violento quanto uma criança que aprende a usar os dentes. Sou puro, Luina, foi você quem disse que eu era obsceno. Foto: Ricardo Pereira/ modelos: As Elétricas (Cátia e Kamille).