sexta-feira, 24 de agosto de 2007

às feras

para você

Funciona igual um brinquedinho novo. Enquanto você não esgota todas as suas possibilidades não quer brincar de outra coisa. Amor é só um nome mais limpo. Por que você tem sempre de ser tão cruel com as palavras? Nem parece um poeta – ela reclama do quarto, estou escolhendo uma música. Você prefere que eu minta ou diga que te amo do único jeito que sei, isto é, honestamente? Ela quer ouvir sobre o taj mahal – histórias de amor e glória onde homens e mulheres têm suas necessidades mais básicas como fome e sede satisfeitas não lhe atraem.

Ora trago ela para o chão ora carrego ela sobre os ombros, depende do meu humor, da minha fantasia para aquele dia, do que comi no almoço, do que li no jornal, deste “navegar impreciso” que é a vida. Ela tem dúvidas sobre até aonde vamos com aquilo. Prometo que seremos felizes, que teremos filhos, que lhe trarei flores, que telefonarei no dia seguinte, que apagarei qualquer vestígio quando for embora de manhã, que você nunca mais vai ouvir falar de mim.

Todos estamos nos empurrando uns contra os outros. Ninguém mais é “novo”, inocente, principiante, todos já fomos violentados, lutamos contra as regras mas somos por elas educados, é o medo da solidão que nos atira às feras, depois de um tempo nos tornamos também feras, botamos para funcionar nosso velho e bom instinto de preservação: devora ou será devorado. Vê, seria mais fácil te iludir, mas sua pele é rosa, é branca, é jasmin, não quero nela as mesmas feridas feias cicatrizes que trago aqui e aqui.
Foto: Renata Punk.