sexta-feira, 3 de agosto de 2007

o que um poeta tenta ser

Invejo os escritores que vão nos mínimos detalhes. Não me refiro aos pornográficos – embora respeite e entenda a sua arte. Neles vigora uma fé nos corpos e tão somente uma fé nos corpos. Eu escrevo sobre corações. O meu, conheço um pouco melhor. Dos outros, apenas aqueles dos quais aproximei meu ouvido para escutar o que “diziam”: vocês já ouviram canções de amor? Não, vocês nunca ouviram canções de amor.

O que eu sou? O que um poeta tenta ser. Na vida já fiz de tudo e sei que ainda há muito por se fazer. Eu tenho um romance por escrever, cada página é um dia que acordo, cada mulher que encontro pode representar uma mudança considerável em meus planos, por isto estes fragmentos de um discurso amoroso – estou aberto à sugestões, quem souber um beijo novo, uma palavra mais simples que “amor” ou uma solidão de noite me conte, quero saber. Preciso de mais, não há descanso para quem respira só o que o inspira.

Não sou artista, sequer ouso, a Cris é que era – no pouco tempo em que moramos juntos eu apenas a observava enquanto “trabalhava” (como quando contemplamos o mar ciente de que não estamos à altura): queria ver através do seu olhar, tudo o que eu conseguia enxergar se limitava ao que eu entendia de “poesia” em corpos nus – mas não demorava e chegava o instante em que meu desejo de tocá-las e lambuzar-me delas superava o “poeta”. Não é o equilíbrio que me atrai mas o que me faz balançar.
Foto: Nelson Luis Abrahao