A última da noite ainda ecoa na minha cabeça. Tenho planos para mais uma vida mas acho que não vai dar tempo de viver tudo, então faço escolhas, cometo erros, tento o que machuca menos, ledo engano – sei que será inútil prendê-la aqui mais do que um desejo: primeiro queria que ela se jogasse, fiz de tudo para que me adorasse, ela veio e se deitou, ambos temos fome de que algo aconteça. Podia não amanhecer nunca mas amanhece. Ficarei da janela – minha torre de marfim – vendo ela se afastar, o sol a torna ainda mais bela, vejo como é bom longe de mim, aqui dentro falaríamos de escuridão. Minha pele saberá seu nome até que outro corpo venha e apague. Estou escrevendo assim para que se torne verdade mas minha pele sabe que não é tão simples.
Tenho que atender o telefone, dizer que não estou, desculpar-me por cada verso, fiz ela imaginar coisas que eram até reais demais quando eu dizia quase que sem controle, estava embriagado de seus lábios, da sua juventude, da sua rebeldia, da música que só a gente ouvia. Queria que não houvesse começo fim mas que tudo acontecesse fluísse naturalmente a gente se encontrasse era feliz amigos que se apaixonassem todos teríamos mais o que fazer onde dormir sem perder a cabeça sem parar para refletir uma vida que todo mundo aproveitasse onde nada doesse nada sangrasse deixasse uma flor onde se amou. Ela ficava me ouvindo falar assim. Não sabia dizer se eu era mau cruel ou a melhor coisa que já andou sobre a Terra se eu queria o bem de todo mundo ou só o meu.
Existem milhões de festas, noite como esta, pessoas como nós, gente que você nem sabe o nome e a solidão e corpos e mais corpos e depois mais corpos e no meio disso tudo o nosso. A gente é pequeno, a gente é frágil, a gente quer quem torne tudo mais fácil, diga na nossa língua, corra nos dar um abraço, procure um alívio, cale a boca por um segundo, nos ame e não pare, nos ame e não pare, nos ame e não pare... Foto: Ricardo Pereira/modelo: Dana Dinha
Tenho que atender o telefone, dizer que não estou, desculpar-me por cada verso, fiz ela imaginar coisas que eram até reais demais quando eu dizia quase que sem controle, estava embriagado de seus lábios, da sua juventude, da sua rebeldia, da música que só a gente ouvia. Queria que não houvesse começo fim mas que tudo acontecesse fluísse naturalmente a gente se encontrasse era feliz amigos que se apaixonassem todos teríamos mais o que fazer onde dormir sem perder a cabeça sem parar para refletir uma vida que todo mundo aproveitasse onde nada doesse nada sangrasse deixasse uma flor onde se amou. Ela ficava me ouvindo falar assim. Não sabia dizer se eu era mau cruel ou a melhor coisa que já andou sobre a Terra se eu queria o bem de todo mundo ou só o meu.
Existem milhões de festas, noite como esta, pessoas como nós, gente que você nem sabe o nome e a solidão e corpos e mais corpos e depois mais corpos e no meio disso tudo o nosso. A gente é pequeno, a gente é frágil, a gente quer quem torne tudo mais fácil, diga na nossa língua, corra nos dar um abraço, procure um alívio, cale a boca por um segundo, nos ame e não pare, nos ame e não pare, nos ame e não pare... Foto: Ricardo Pereira/modelo: Dana Dinha