quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

continua de onde paramos

Todas as explicações são boas, o prazer está em formula-las, o prazer está em ouvi-las, sua voz, a minha, conversamos. Sobre tudo e ficamos horas perdidos naquele canto do restaurante, uma garrafa de vinho a nos fazer companhia, já não bebemos, já não nos importa tanto, estamos em uma paris que não existe mais, aquela dos filmes preto e branco, somos personagens à revelia, idéias que fazemos um do outro quando estamos nos apaixonando.

Você me interessa porque tem dúvidas e eu lhe atraio porque ajudo a resolvê-las, não tenho o gabarito com as respostas, nem acho que as perguntas que tem se feito são as mais importantes, apenas respeito seu receio e sua ansiedade. O caminho é longo e você pelo menos já sabe onde está pisando, seu olhar mira o horizonte imaginando e eu que já estive lá e sei que não é daquela cor nada conto, nada revelo. Podia protegê-la do ‘seu’ destino mas isto seria impedi-la de ser você mesma, não quero você à minha imagem e semelhança, prefiro que só eu durma com um barulho desses.


Daqui há alguns anos meu poema para você será só um pedaço de papel, acontece com todo mundo, um dia a vida que você queria e que de certa forma aquele poema representava perde a força, desbota; é quando aquela vida que você aceita porque entendeu que não pode vencê-la toma conta em definitivo dos seus sonhos e passos. Enquanto isso não acontece, enquanto o mundo não lhe devora, deixe que eu ‘minta’ um pouco sobre o amor, depois eu também vou embora, quero ser vital no minuto de agora, não sou tão ambicioso a ponto de exigir eternidade do que não passa de um piscar de olhos no Tempo. É que eu ainda não me curvei, não sei mais do que isto, nos meus bolsos gavetas guardo poemas poemas poemas nenhum pedaço de papel – tudo que me disseram, o carinho que me fizeram, amor e como mais quiser chamar não perdeu sua força, nem desbotou, colore ainda meus sonhos e passos, me faz caminhar.
Foto: Julia Sweet, Vista Rosa, 2007.