quarta-feira, 5 de setembro de 2007

três noites atrás

E se eu disser que não sei o nome do que sinto você fica mais algumas noites comigo até descobrirmos? Ás vezes a cama começa algo mas não decifra tudo. Precisamos justificar nossos atos, dar desculpas pelo que somos, inventar regras mesmo que seja apenas para transgredi-las, eu não queria pensar em nada disso naquele momento, apenas apertar contra o meu seu corpo de mil e novecentos e oitenta e nove. Foi um bom ano, tenho feito descobertas neste sentido. Ela é livre e pode me esquecer pelas ruas, mas da cama até a porta do quarto lhe parece uma distância imensa, então ela fica e se apaixona. Está cansada – o “amor” foi bom.

O silêncio é cheio de pequenas conversas – dos olhos, lábios, línguas e dentes, pele, mãos, dedos, pernas e sexo. Escrevo como falo e não como penso. Digo isto apenas para que você faça o mesmo. Se não o meu texto fica frio e distante, meu e mais ninguém entende, prefiro que sua boca o experimente, como drops até o fim – seu sabor será como quiser.

Há muito lhe espero porque você só veio agora?, ela quis saber. A resposta é simples: olhei para o lado e te vi. Mas não posso dizer isto. Está no meu caminho por conta de uma série de acasos que nos remetem até os princípios da humanidade, o primeiro homem, a primeira necessidade do outro, o desejo ainda em seu estado bruto, selvagem, e a gente ali já tão domesticados, civilizados, esquecemos que um dia bastaram grunhidos, gestos com as mãos que hoje seriam obscenos – poesia, amor, deuses, destino, tudo o que utilizamos apenas para encobrir nosso real objetivo: mantermo-nos aquecidos. E se eu disser que não sei o nome do que sinto você fica mais algumas noites comigo até descobrirmos?
Foto: Susan Meiselas, USA Carnaval Strippers, 1973.