A vida é só uma fachada. Apenas conta-se os dias até que tudo desmorone, venha abaixo, o tempo passe e ninguém se lembre mais. A gente procura viver como todo mundo: cumpre horários, diz bom-dia, senta-se sozinha num restaurante, hesita diante de um prato mais exótico, namora as capas de revista, imagina como seria. Eu vejo pessoas alegres, vejo pessoas tristes, queria ser como elas, experimentar algo que fosse real, invejo quando elas riem e sou forçada a rir com elas como se pedisse licença para existir – quem sabe se naquela noite não sonho algo diferente, um filme, algo que nos faça querer dançar, é tudo o que nos esquenta naquele quarto e sala que é a vida nas grandes cidades. Estamos todos com pressa, ninguém fica o tempo suficiente, se você é uma médica só querem saber o que eles têm, se você é uma garçonete porque o pedido deles está demorando tanto a sair, se você é uma prostituta quanto você cobra por um boquete, se você é uma bilheteira quando começa a próxima sessão – eu pergunto: quando é que vamos poder fumar um cigarro sincero com alguém, rirmos e acharmos graça? Conheça milhões de pessoas e não conheça ninguém.
Eu tenho esperança de que a vida seja mais do que isso e que eu apenas me enganei. Goste de um vestido que veja em alguma vitrine, entre e experimente, veja como fico nele, mesmo sabendo que não posso compra-lo, tem o aluguel, o gás, as refeições e o dinheiro que envio aos meus pais, mas por alguns minutos olhando-me no espelho me sinto distante de tudo aquilo. Dura pouco tempo o que nos faz feliz. Depois digo a vendedora que não sei se ficou bem em mim, que mais tarde volto com o meu noivo e peço que me dê sua opinião. Já na rua, há alguns metros da butique, rio da mentira que contei, pareço boba eu sei. Image: Edward Hooper – New York Movie(1939).
“O Velho Cinema” assim como “Às quatro da manhã” – publicado anteriormente aqui – faz parte de uma série de pequenos textos que escrevi inspirados nas telas do pintor norte-americano Edward Hooper cuja influência sobre este blogue não se limita a estes textos mas espalha-se pelos demais com maior ou menor peso e também pelas fotos que ilustram muitos deles.
Eu tenho esperança de que a vida seja mais do que isso e que eu apenas me enganei. Goste de um vestido que veja em alguma vitrine, entre e experimente, veja como fico nele, mesmo sabendo que não posso compra-lo, tem o aluguel, o gás, as refeições e o dinheiro que envio aos meus pais, mas por alguns minutos olhando-me no espelho me sinto distante de tudo aquilo. Dura pouco tempo o que nos faz feliz. Depois digo a vendedora que não sei se ficou bem em mim, que mais tarde volto com o meu noivo e peço que me dê sua opinião. Já na rua, há alguns metros da butique, rio da mentira que contei, pareço boba eu sei. Image: Edward Hooper – New York Movie(1939).
“O Velho Cinema” assim como “Às quatro da manhã” – publicado anteriormente aqui – faz parte de uma série de pequenos textos que escrevi inspirados nas telas do pintor norte-americano Edward Hooper cuja influência sobre este blogue não se limita a estes textos mas espalha-se pelos demais com maior ou menor peso e também pelas fotos que ilustram muitos deles.