“... amor será dar de presente um ao outro a própria solidão? Pois é a coisa última que se pode dar de si...” (de Clarice Lispector, em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)
Conhecer (cumplicidade) – ela disse – significa entrar pela nossa porta a qualquer hora, ter todos os erros de que precisamos para não nos sentirmos sozinhos alienígenas, afinal nos faz ver que não somos os únicos que ‘morrem’ por tão pouco, uma madrugada que não rola fácil, um telefone que não toca, o melhor uísque já foi e a tortura de caminhar sem um cigarro que seja como uma fera cuja jaula não mata a selva dentro dela. Eu chego embriagado de uma outra paixão e você me recebe como se meus crimes e minhas dúvidas fossem sempre benvindos, primeiro nos tratamos com aquela cortesia típica dos amantes mais antigos – como se nada fosse nem precisasse acontecer, tudo já fora dito anteriormente milhões de vezes e repeti-las como se fosse uma desculpa por ser aquela hora da noite e não em pleno meio-dia na grande avenida à vista de todos de quem quer que seja, já perdeu todo o sentido. Viveremos isto como um favor que nos faremos.
Entendemos que nada mais é estranho, novo ou rompe com velhas estruturas, na vida que é sua e de mais ninguém o meu corpo aquece e faz passar a noite (durmo aliviado com isto). Eu sei que existe aquela fagulha de esperança em você em mim em todos nós de que a história possa mudar repentinamente – quem sabe enquanto observamos o outro dormindo nos apeguemos como se entendessemos a solidão que é viver respirar existir. Mas é no cheiro do sexo que nos concentramos, quase que nos policiando de maiores ilusões, afinal mesmo o amor por mais honesto que irrompa tende a nos cravar punhais com o passar dos dias. Eu sei porque já experimentei todas as certezas deste mundo. Fui fundo. Você também, dona das mais lindas olheiras.
Depois achamos que é melhor assim – só um grande teatro a nos consumir: nele você cada vez melhor atriz da peça que eu próprio escrevi para exorcizar meus demônios, ter o que fazer, me distrair. Revejo as noites mulheres pedaços de lábios de corpos que me inspiraram em seus gestos e palavras, a crueldade de outras encenações, a canastrice de algumas interpretações, o achado que são certos cacos, exaustivos ensaios, intrigas de camarim. Troco seu nome com o da personagem, seu nome e o da personagem é o mesmo mas confundo mesmo assim, o palco está vazio mas eu a vejo como desejo crua, nua, charlatã, real. Não pode ser verdade, não posso ser verdade. Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Bruna S.
Conhecer (cumplicidade) – ela disse – significa entrar pela nossa porta a qualquer hora, ter todos os erros de que precisamos para não nos sentirmos sozinhos alienígenas, afinal nos faz ver que não somos os únicos que ‘morrem’ por tão pouco, uma madrugada que não rola fácil, um telefone que não toca, o melhor uísque já foi e a tortura de caminhar sem um cigarro que seja como uma fera cuja jaula não mata a selva dentro dela. Eu chego embriagado de uma outra paixão e você me recebe como se meus crimes e minhas dúvidas fossem sempre benvindos, primeiro nos tratamos com aquela cortesia típica dos amantes mais antigos – como se nada fosse nem precisasse acontecer, tudo já fora dito anteriormente milhões de vezes e repeti-las como se fosse uma desculpa por ser aquela hora da noite e não em pleno meio-dia na grande avenida à vista de todos de quem quer que seja, já perdeu todo o sentido. Viveremos isto como um favor que nos faremos.
Entendemos que nada mais é estranho, novo ou rompe com velhas estruturas, na vida que é sua e de mais ninguém o meu corpo aquece e faz passar a noite (durmo aliviado com isto). Eu sei que existe aquela fagulha de esperança em você em mim em todos nós de que a história possa mudar repentinamente – quem sabe enquanto observamos o outro dormindo nos apeguemos como se entendessemos a solidão que é viver respirar existir. Mas é no cheiro do sexo que nos concentramos, quase que nos policiando de maiores ilusões, afinal mesmo o amor por mais honesto que irrompa tende a nos cravar punhais com o passar dos dias. Eu sei porque já experimentei todas as certezas deste mundo. Fui fundo. Você também, dona das mais lindas olheiras.
Depois achamos que é melhor assim – só um grande teatro a nos consumir: nele você cada vez melhor atriz da peça que eu próprio escrevi para exorcizar meus demônios, ter o que fazer, me distrair. Revejo as noites mulheres pedaços de lábios de corpos que me inspiraram em seus gestos e palavras, a crueldade de outras encenações, a canastrice de algumas interpretações, o achado que são certos cacos, exaustivos ensaios, intrigas de camarim. Troco seu nome com o da personagem, seu nome e o da personagem é o mesmo mas confundo mesmo assim, o palco está vazio mas eu a vejo como desejo crua, nua, charlatã, real. Não pode ser verdade, não posso ser verdade. Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Bruna S.