Eu a peguei folheando meus rascunhos, parecia bastante interessada, sabe que eu não gosto que leiam quando as coisas ainda estão assim, incompletas, pedindo um fim, mas não me atrevi a interrompê-la, estava se apaixonando, e é um privilégio assistir a isso sem que o outro saiba da nossa presença, sentia uma pontinha de orgulho por ter escrito aquelas páginas, por prender sua atenção num dia de sol, aquela papelada já estava ali sobre a mesa há mais de uma semana, à espera dela me parece.
Vejo quando ela sorri ao final de uma página e antes de passar para a seguinte volta os olhos para a anterior como se quisesse gravar alguma frase, algo que talvez eu tenha ‘dito’ com outra intenção, mas da qual ela se apropriava como se ‘aquelas palavras’ a explicassem melhor para si mesma, estas perguntas que nos fazemos muitas vezes na vida e que deixamos no ar para mais tarde respondermos e que um poeta do século passado com uma vida completamente diferente da nossa parece saber direitinho o que significa e porque as fazemos. Naquele instante eu sou como um poeta do século passado com uma vida completamente diferente da dela, ou quem sabe o trecho destacado fosse apenas um comentário sobre mim mesmo, algo que às vezes revelo sem dar-me conta, sem pesar se deveria, como uma falha, um erro, um fraco que nos humaniza perante aquele que a princípio só nos admira, não sabe ainda se pode fazer parte de tudo aquilo, de que maneira pode contribuir.
Isto há muito deixou de ser um romance, não sei mais que direção vai tomar, não me importa mais, nele de tudo cabe, outra noite referi-me a ele como meu ‘dicionário de sentimentos’, tentei explicar o que aquilo significava, depois a conversa mudou de rumo, fomos para a cama mais cedo. Isto também há muito deixou de ser só da minha vida, daquilo que eu posso sentir e revelar, começo um novo parágrafo e não sei onde vou parar. Às vezes chego até você, dou voltas em torno de você, bagunço o seu cabelo, mudo o seu jeito de olhar, depois volto para a casa com uma nova história para contar. Meus personagens não são reais, quem dá vida à eles é que é: em outras palavras, você. Foto: Ricardo/ela: Gabi L.
Vejo quando ela sorri ao final de uma página e antes de passar para a seguinte volta os olhos para a anterior como se quisesse gravar alguma frase, algo que talvez eu tenha ‘dito’ com outra intenção, mas da qual ela se apropriava como se ‘aquelas palavras’ a explicassem melhor para si mesma, estas perguntas que nos fazemos muitas vezes na vida e que deixamos no ar para mais tarde respondermos e que um poeta do século passado com uma vida completamente diferente da nossa parece saber direitinho o que significa e porque as fazemos. Naquele instante eu sou como um poeta do século passado com uma vida completamente diferente da dela, ou quem sabe o trecho destacado fosse apenas um comentário sobre mim mesmo, algo que às vezes revelo sem dar-me conta, sem pesar se deveria, como uma falha, um erro, um fraco que nos humaniza perante aquele que a princípio só nos admira, não sabe ainda se pode fazer parte de tudo aquilo, de que maneira pode contribuir.
Isto há muito deixou de ser um romance, não sei mais que direção vai tomar, não me importa mais, nele de tudo cabe, outra noite referi-me a ele como meu ‘dicionário de sentimentos’, tentei explicar o que aquilo significava, depois a conversa mudou de rumo, fomos para a cama mais cedo. Isto também há muito deixou de ser só da minha vida, daquilo que eu posso sentir e revelar, começo um novo parágrafo e não sei onde vou parar. Às vezes chego até você, dou voltas em torno de você, bagunço o seu cabelo, mudo o seu jeito de olhar, depois volto para a casa com uma nova história para contar. Meus personagens não são reais, quem dá vida à eles é que é: em outras palavras, você. Foto: Ricardo/ela: Gabi L.