quinta-feira, 13 de novembro de 2008

a grande verdade

“... gosto de ser cruel pra chamar sua atenção...”
(Paula Toller)

Algumas mulheres são como poemas que eu gostaria de ter escrito. Outras rabiscado e jogado fora. Funciono assim, o que posso fazer? O mundo é vazio se você não se apaixona. Ou os dias são longos demais ou poderiam durar semanas que você não se importaria. Sou expert em contemplar mulheres saindo do banho e vindo para a cama. Eu vivo por isso, natural que escreva sobre isso. Não vou me casar com a sua filha, não se preocupe, estou apenas ‘esquentando’, ensinando para ela para que serve seus braços, seu colo, lábios, dentes e pernas e um pouco de amor, é claro, algo que ninguém mais sabe. Eu sou o último romântico, eu e a Nana, mas ela é personagem de outra história. De Paranóias, histerias e delírios.

Então ela apanhou o Bukowski que eu andei lendo. Achou um tanto vulgar o modo como ele descrevia sua vida, suas mulheres. Isso te excita? – perguntou mostrando-me o livro. Isso me excita – respondi apontando para o seu corpo. A gente não lê para substituir a vida, a gente lê para dar a vida algum sentido que preste. Ou você pensa que trabalhar e ter algum dinheiro é o suficiente? A cidade lá fora é praticamente um filme de George Romero. Os zumbis já são em maioria aos vivos. Alguns estão até escrevendo livros. Figuram entre os mais vendidos. A boa literatura precisa ter algo de repugnante. É como quando você olha para a sua própria vida e diz ‘não acredito que estou vivendo isso’ – dizer isto é a melhor forma de sacar se você é um dos zumbis ou um dos vivos. A maioria de nós já morreu, o problema é que inventaram excelentes perfumes para nos esconder isso. Da grande verdade que é a morte em vida. Ou sistema capitalista.

Algumas mulheres gostariam que eu simplesmente passasse a mão em suas cabeças. Ora por que não, eu também faço isso, só que cobro pelo serviço. Não há nada de indecoroso em ser um garoto de programa, a maioria dos homens e das mulheres que conheço hoje não passam disso, a diferença é que vão de graça. O que, imaginam, os colocam num nível superior de moral e decência. Como remédio para a solidão é perfeitamente justificável. Pelo menos por alguns minutos temos a sensação de que tudo é real, que somos imprescindíveis, nossos corpos insubstituíveis, mas é durante o café da manhã que não conseguimos disfarçar. Eu também tenho hora no dentista.
Foto: Ricardo/ modelo: Renata Punk.