sábado, 26 de julho de 2008

a máquina do tempo

“... mas a máquina do tempo não existe...”

Estamos em 2003, cinco anos atrás. É uma noite de terça. Ninguém sabe que estou de volta, nem eu sei direito o que estou fazendo aqui. A música devia ser esta mesma, não me lembro bem, talvez a memória tenha selecionado outra do playlist. Sei que está alta e não consigo entender sobre o que se conversa, apenas passo o tempo enquanto você não entra. Você só chegará daqui vinte minutos, pergunto que horas são e sua irmã confirma. Podia me levantar e ir embora, posso fazê-lo agora, mas não sei porque espero, não está atrasada porque não combinamos nada, eu não sabia que você viria, sabia que você existia mas não fazia a menor idéia de como seria, sua irmã não me disse que eram gêmeas e o quanto com ela se parecia. As duas resolveram me pregar uma peça, enquanto você fingia que era ela notei algo que até então desconhecia, não sei se tive esta mesma impressão há cinco anos atrás, a luz era pouca, havia bebido, só sei que agora que tudo ficou mais claro, que meu índice de álcool no sangue é baixo, que você sentou à mesa depois de ter trocado de jaqueta com sua irmã eu percebo que há algo errado, há algo diferente, mas não em você, digo em mim, é que agora eu sei, já estou perdido, já sei que você vai embora, quando e como, já sei que cada segundo contigo foi mágico, já sei porque vim ao mundo, já sei que não terei outra chance como esta, que a vida é uma e que a sua foi muito curta para mim. Se eu tivesse me levantado (como posso me levantar agora) e ido embora (mas não me movo um centímetro), não a teria conhecido e hoje nada sentiria, nem carregaria você comigo para tudo que é lado, mas se não o fiz, não o faço agora, porque daria tudo para repetir esta noite, terça-feira, cinco anos atrás, mesmo que não me fosse possível evitar nada do que aconteceu depois, mesmo que viesse a dor de quando você nos deixou, mesmo que eu tivesse de olhar para você pela última vez, eu olharia, ali em silêncio a me despedir, por isso deixo que você me engane, que você pense que eu não sei que é você na minha frente novamente, procurando imitar o jeito de sua irmã falar. foto: Ricardo/ modelo: Helena.