Chegará o dia em que eu vou decepcioná-la. Não serei tão forte como você espera, nem parecerá que eu tenho aquela experiência toda que eu declaro, talvez tenha inventado os melhores anos da minha vida. Seu corpo então escapará dos meus braços e você aprenderá que só se caminha com as próprias pernas. Não sei como fará mas terá de apagar todos os vestígios de que me ama da sua pele e da sua voz. Eu telefonarei e você deixará tocar. É o que eu espero que você faça, foi por isso que disquei seu número, foi por isso que insisti em ‘chamar’ mesmo sabendo que você só precisava esticar o braço para atender, sei onde fica o telefone, ao lado da sua cama, conheço cada detalhe do seu quarto, posso descrevê-lo para você, sei que a parede é mais branca atrás do armário, sei onde acumula mais poeira, conheço cada rangido da sua cama, mas isto a esta hora os vizinhos também já devem saber, conheço cada centímetro de você, sei quando parece que uma serpente sobe por entre suas pernas, sei quando você não consegue disfarçar. Sei. O que posso fazer? Negar? Não dá. Chegará o dia em que não adiantará mais nada saber tudo isso sobre você. Nos encontraremos na sessão de laticínios e eu estranharei aquela ricota no seu carrinho.
Não é o futuro, isso já aconteceu, comigo, com você, com quem acabou de ler. É que a vida é disso que se trata e é justamente nisso que eu quero me concentrar, não nos grandes feitos, nos heróis que não há, mas ‘em que você está pensando quando está do outro lado da festa e me observa conversando, fazendo gestos, inflamado, me admirando’. Será que compreende que eu também deixo as coisas caírem, que às vezes não sei onde coloquei e preciso procurar, que erro como todo mundo, que posso ser justo mas também posso pensar só em mim mesmo, que quando você deita a cabeça no meu peito e começa a contar sobre o seu dia que metade do que me diz eu não vou guardar, que é porque você é linda que eu deixo o que estou fazendo só para lhe beijar. Será que entende que a maior parte do tempo já é ‘amor’ e não somente naqueles ‘momentos’. Chegará o dia em que não concordará comigo como faz agora com um sorriso. Foto: Ricardo Pereira/modelo: Gi.
Não é o futuro, isso já aconteceu, comigo, com você, com quem acabou de ler. É que a vida é disso que se trata e é justamente nisso que eu quero me concentrar, não nos grandes feitos, nos heróis que não há, mas ‘em que você está pensando quando está do outro lado da festa e me observa conversando, fazendo gestos, inflamado, me admirando’. Será que compreende que eu também deixo as coisas caírem, que às vezes não sei onde coloquei e preciso procurar, que erro como todo mundo, que posso ser justo mas também posso pensar só em mim mesmo, que quando você deita a cabeça no meu peito e começa a contar sobre o seu dia que metade do que me diz eu não vou guardar, que é porque você é linda que eu deixo o que estou fazendo só para lhe beijar. Será que entende que a maior parte do tempo já é ‘amor’ e não somente naqueles ‘momentos’. Chegará o dia em que não concordará comigo como faz agora com um sorriso. Foto: Ricardo Pereira/modelo: Gi.