segunda-feira, 12 de novembro de 2007

o teatro trágico

O que viveremos agora se tudo já foi tentado? Não faz mais sentido chorar, sangrar, morrer, tudo é uma histeria dos fracos. Eu sou aos trancos e barrancos o último romântico desta companhia de teatro que é o cotidiano. Você é linda com seus poderes sobre mim, as palavras certas, o corpo que esquenta, a armadilha bem feita é o outro nome que dou ao amor. Experimento de tudo, o que quiser me dar, até o fim, como um rei no seu paraíso.

A gente está cansado, prefere não lutar, deixar que tudo aconteça naturalmente – sem regar nenhum fruto brotará da semente, mas a gente não se convence disso, nos sentimos deuses, superiores, senhores do destino, no lugar de poesia damos ordens: “abra a perna para que eu entre” e o mundo vai perdendo o que é sagrado, foram anos de batalha até aqui e agora que conquistamos dizemos que é lixo depois que usamos no máximo duas vezes, na terceira já perdeu a graça, já não nos faz nenhum favor, já é um saco.

Antes éramos a exceção, agora viramos a regra, abrimos a porta mas só até a metade, não há mais entrega, conversamos e rimos da dor, nossa fome nunca que cessa, cada vez mais e mais precisamos desta sensação de que pertencemos a alguém de que alguém nos pertence, a sensação é tudo o que nos resta porque daqui a pouco será outra festa, outra cama, outra obscenidade no ouvido, outro crime a ser cometido, assassine para não ser assassinado.
Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Line