Nunca lhe perguntei o que se passava em sua cabeça naquela manhã de julho quando você foi até as pedras e vasculhou o mar. Em busca de quê, eu deveria ter lhe perguntado. Peguei a câmera e sem saber direito o que apertava registrei aquele segundo mágico. Anos depois vi o que tinha feito num porta-retrato na sua casa. Você me perguntou “lembra?” e eu respondi “como se fosse ontem” comovido por ter vivido tudo aquilo com você. Meses depois no meu aniversário você a me deu de presente. Junto tinha um bilhete com uma frase que você atribuía a mim: “eu sempre retorno aos mesmos lugares”. Era realmente minha mas dita num contexto diferente do qual eu a empregava ela parecia ganhar um outro sentido mais profundo, necessário, urgente quanto mais se vive, como se ‘retornar aos mesmos lugares’ significasse ‘um deixar-se levar no tempo até momentos que não se repetem duas vezes na vida por mais que busquemos reiteradas vezes ao longo dela a sensação que ter estado lá nos provocara’ – é sempre algo entre a esperança de que faça sol e a frustração por estar chovendo. Perdemos a chance de descobrir o quanto a chuva pode conter bem mais poesia. Isto não é literatura, my dear. Literatura é Deus. Isto não é sequer beijar Seus pés – tudo o que eu quero é recuperar no ‘que escrevo’ a poesia daqueles dias.
Eu sempre retorno aos mesmos lugares. Talvez isto explique porque conheça seu corpo tão bem mas também isto não vem ao caso, afinal, não é de você que estou falando mas de mim. “Será?”, você me pergunta com aquele brilho nos olhos de quem sabe que venceu mais uma. Então a questão que devo me fazer é outra: até que ponto é possível me separar de você e contar única e exclusivamente a ‘minha’ história? De você e de todas as outras? Porque já que tocamos no assunto não vamos esquecer ninguém.
Estava jogando umas coisas fora, sonhando o que poderia ter sido, é o que eu faço quando o tempo muda, o frio nos torna mais introspectivos, a bru é linda mas também é muito jovem não entende bem isto, prefiro que ela fique na sala ouvindo seu mp3 enquanto ‘dialogo contigo’. Foi só eu dizer o nome dela para você querer levantar e ir embora, dizendo que eu mudei a regra do jogo com ele em andamento, estávamos indo tão bem (sua vida já estava entrando dentro da minha), apesar de considerar justa a sua reação eu peço que fique, somos velhos amigos, não há mais segredos entre nós, já namoramos em todos os cantos da casa. Eu sempre retorno aos mesmos lugares, lembro da frase enquanto a ‘seguro’ pelo braço. Agora está chovendo onde a gente fez planos. Nada, de certa forma, saiu como planejamos. Mas quando importava, nos dias em que sonhamos, serviu para nos aquecer e a vida parecer completa e definitiva. Foto: Ricardo Pereira, Cris Tempestade, 2002.
Eu sempre retorno aos mesmos lugares. Talvez isto explique porque conheça seu corpo tão bem mas também isto não vem ao caso, afinal, não é de você que estou falando mas de mim. “Será?”, você me pergunta com aquele brilho nos olhos de quem sabe que venceu mais uma. Então a questão que devo me fazer é outra: até que ponto é possível me separar de você e contar única e exclusivamente a ‘minha’ história? De você e de todas as outras? Porque já que tocamos no assunto não vamos esquecer ninguém.
Estava jogando umas coisas fora, sonhando o que poderia ter sido, é o que eu faço quando o tempo muda, o frio nos torna mais introspectivos, a bru é linda mas também é muito jovem não entende bem isto, prefiro que ela fique na sala ouvindo seu mp3 enquanto ‘dialogo contigo’. Foi só eu dizer o nome dela para você querer levantar e ir embora, dizendo que eu mudei a regra do jogo com ele em andamento, estávamos indo tão bem (sua vida já estava entrando dentro da minha), apesar de considerar justa a sua reação eu peço que fique, somos velhos amigos, não há mais segredos entre nós, já namoramos em todos os cantos da casa. Eu sempre retorno aos mesmos lugares, lembro da frase enquanto a ‘seguro’ pelo braço. Agora está chovendo onde a gente fez planos. Nada, de certa forma, saiu como planejamos. Mas quando importava, nos dias em que sonhamos, serviu para nos aquecer e a vida parecer completa e definitiva. Foto: Ricardo Pereira, Cris Tempestade, 2002.