terça-feira, 16 de outubro de 2007

noites-brincando

“...Se eu morrer não chore não/ é só a Lua/ é seu vestido cor de maravilha nua/ Ainda moro nesta mesma rua/ como vai você?/ você vem ou será que é tarde demais?...”(de Lô Borges e Márcio Borges, Um Girassol da Cor do Seu Cabelo)

Depois de manhã é aquela bagunça. Não sei dos meus sapatos e você do sutiã. Estamos mais felizes do que preocupados. Você se espreguiça toda como se tivesse uns mil ossos. Eu descubro no meio do café que preparo que estamos sem açúcar. Preciso passar no supermercado na volta do trabalho. Mas quando dá seis horas só uma coisa passa pela minha mente: meter-lhe os dentes. Passo em frente de uns três supermercados e nem sei do que se trata. Estou com a cabeça no meio das suas pernas.

A gente é outro à luz do dia. Você ainda se permite ser um pouco mais maluca: faz caras e bocas na eca – mas eu ainda preciso fazer a barba e vestir algo mais para o cinza: ainda não cheguei na parte do curso em que ensino o uivo de allen ginsberg. Lembra como você tirou toda a roupa depois daquela aula? Eu estou queimando desde aquele dia.

Está tudo na minha boca, está tudo na minha pele e se fecho os olhos vejo sua dança selvagem. Nosso filme caseiro. Achei melhor não perguntar se voltamos ou se foi apenas um final de semana. Não me parece o mais importante agora. Gosto destes lances esporádicos que não estavam previstos. Guardei um pouco de você só para mim. Todo dia eu abro a tampa e respiro do seu jasmin. Parece que a vida nem é real mais, apenas parte do contrato. O que interessa mesmo são estas noites-brincando, alguns poucos dias abençoados. Nem todo o amor que eu senti valeu o esforço; você pelo contrário vale cada minuto suado. E pensar que não era para ser nada e por não ter a obrigação de ser nada é que ficou eternizado.
Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Line.