Já estivemos aqui antes. Não me refiro ao lugar: o quarto, a cama, a manhã – me refiro ao instante. Lembra? Era só um tempo você disse, me vesti e a deixei na sua: em outra dimensão. Nunca acreditei que teria fim. Não teve realmente. Tampouco sei se foi melhor assim. Volto e é como se tudo estivesse como havia deixado. Estamos repletos de outros é verdade mas isto não nos preencheu como supunhamos – vamos pular a parte de ‘pelo menos termos histórias para contar’.
Espero só a hora certa para lhe dizer que não existe outra chance para além de nós – estamos condenados: nosso amor (que amor?, eu me lembro de ter zombado) é como uma velha cama conhecida confortável aconchegante para repousarmos nossos corpos cansados – cansados de tudo que apostamos e deu errado. Lá fora não há mais esperança para nós porcarias de românticos envenenados, fomos exterminados – só um exército de zumbis esfomeados. Eu não quero mais só carne, eu quero o que tenha sabor.
Você me olha com aquela expressão de quem já não se impressiona mais com a minha poesia barata (foi este o termo que você usou não foi? Está tudo bem, está perdoada, eu admito: é barata mesmo) mas quer adoraria muito se impressionar: se não estivessem todas as luzes acesas podia até chorar. Certo, a culpa não deixa de ser minha, eu já fui mais convincente mas depois que a gente repete esta ladainha troçentas vezes fica difícil soar convincente: por mais que tenham sido troçentas vezes do fundo do coração – acho que sou o único que ainda acredita. Você preferia, então, que eu não tivesse dito nada, se quero fazer amor me diria vem que faremos, amanhã acordaremos como se tudo fosse eterno novamente: não é assim que sempre fazemos? – me oferece um lugar embaixo do lençol e eu me deito. Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Bruna S.
Espero só a hora certa para lhe dizer que não existe outra chance para além de nós – estamos condenados: nosso amor (que amor?, eu me lembro de ter zombado) é como uma velha cama conhecida confortável aconchegante para repousarmos nossos corpos cansados – cansados de tudo que apostamos e deu errado. Lá fora não há mais esperança para nós porcarias de românticos envenenados, fomos exterminados – só um exército de zumbis esfomeados. Eu não quero mais só carne, eu quero o que tenha sabor.
Você me olha com aquela expressão de quem já não se impressiona mais com a minha poesia barata (foi este o termo que você usou não foi? Está tudo bem, está perdoada, eu admito: é barata mesmo) mas quer adoraria muito se impressionar: se não estivessem todas as luzes acesas podia até chorar. Certo, a culpa não deixa de ser minha, eu já fui mais convincente mas depois que a gente repete esta ladainha troçentas vezes fica difícil soar convincente: por mais que tenham sido troçentas vezes do fundo do coração – acho que sou o único que ainda acredita. Você preferia, então, que eu não tivesse dito nada, se quero fazer amor me diria vem que faremos, amanhã acordaremos como se tudo fosse eterno novamente: não é assim que sempre fazemos? – me oferece um lugar embaixo do lençol e eu me deito. Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Bruna S.