Agora você está aqui, mas daqui a pouco não estará mais. Nem para me dizer quando volta nem porque não pode ficar. Com o que será que sonha?, gostaria de conhecer esse lugar, mas fazer amor contigo, dividir por algumas noites a mesma cama, é o mais perto que me deixa chegar, conheço cada centímetro do seu corpo, cada centímetro e o que o arrepia, mas mais do que isso você não me deixa penetrar. Toca o telefone no meio da noite, era você a uma da manhã, queria me ver, nunca diz se é saudade, necessidade, uma música que acabou de ouvir. Digo que tudo bem, que pode vir. Eu passo aí – e desliga. Pode ser que você chegue aqui no próximo minuto, já esteja até subindo as escadas, mas também que demore, quando eu já tiver perdido as esperanças. Volto alguns passos na direção do quarto como que para me certificar de que não se acordou de um sonho – e lá está você: nua, entre os lençóis. Posso te proteger por algum tempo, mas nunca é o suficiente. Sei que quando eu voltar do trabalho, só encontrarei um bilhete, algo sobre a noite que tivemos, assinado seu nome de flor. Foto: Ricardo/ dela: Gabi L.
terça-feira, 26 de maio de 2009
domingo, 24 de maio de 2009
reais e imaginários
para polly di e gustavo santiago, reais e imaginários
Fugimos – se é assim que vocês gostam de chamar. Mas não nos pergunte do que como se alguém precisasse ter culpa. Foi mais simples do que isto e talvez por isso mesmo mais difícil de entender. Tínhamos a tarde livre e decidimos respirar um pouco. Foi já na estrada que entendemos que não tinha como voltar atrás. E nem foi algo que discutimos, apenas nos entreolhamos e dissemos ‘vamos’ como que concordando com algo maior do que nós. Estamos em outra cidade, o nome eu não vou dizer, alugamos um quarto, nem pediram para ver nossas identidades, mas daqui uma semana o dinheiro acaba, amanhã mesmo vou procurar um emprego, não dá para viver de pequenos delitos: falo de tabletes de chocolate quando não tem ninguém olhando. Ele quer ser escritor, eu sonho que me desenha nua, depois, de noite, ficamos conversando sobre onde gostaríamos de estar dali dez anos, aquilo nos aquece mais que o cobertor surrado que arranjamos. Gosto de pensar que nos apaixonamos de verdade, que certos livros que lemos falam de pessoas como nós, que realmente existiram, viveram tudo aquilo e estão agora em algum lugar e não personagens inventadas por algum escritor, algo que se sonhou e não se levou a sério como, sabemos, bem podemos ser. Foto de Carol Sweet.
Fugimos – se é assim que vocês gostam de chamar. Mas não nos pergunte do que como se alguém precisasse ter culpa. Foi mais simples do que isto e talvez por isso mesmo mais difícil de entender. Tínhamos a tarde livre e decidimos respirar um pouco. Foi já na estrada que entendemos que não tinha como voltar atrás. E nem foi algo que discutimos, apenas nos entreolhamos e dissemos ‘vamos’ como que concordando com algo maior do que nós. Estamos em outra cidade, o nome eu não vou dizer, alugamos um quarto, nem pediram para ver nossas identidades, mas daqui uma semana o dinheiro acaba, amanhã mesmo vou procurar um emprego, não dá para viver de pequenos delitos: falo de tabletes de chocolate quando não tem ninguém olhando. Ele quer ser escritor, eu sonho que me desenha nua, depois, de noite, ficamos conversando sobre onde gostaríamos de estar dali dez anos, aquilo nos aquece mais que o cobertor surrado que arranjamos. Gosto de pensar que nos apaixonamos de verdade, que certos livros que lemos falam de pessoas como nós, que realmente existiram, viveram tudo aquilo e estão agora em algum lugar e não personagens inventadas por algum escritor, algo que se sonhou e não se levou a sério como, sabemos, bem podemos ser. Foto de Carol Sweet.
domingo, 17 de maio de 2009
depois de um ano
Aonde quer que eu vá, você também estará indo, na escada rolante, no elevador subindo. E até nos países que visito, reais ou imaginários, das páginas dos livros. Você desce comigo para jogar o lixo, caminha sob a luz da lua, debaixo de todos os vestidos é você a mulher que imagino nua. Seu nome nos poemas que escrevo como se não fossem para outra pessoa, seu gosto na minha escova de dentes, seu perfume no meu sabonete, deixa vestígios por onde passa que apenas eu entendo, que por menores que sejam acabarei vendo: do seu cigarro de cereja só a fumaça esvaecendo. Quando voltamos para casa sozinhos, abre uma garrafa do melhor vinho e ajuda-me a escolher os discos que ouvirei na madrugada. E até na cor dos olhos, no desenho dos lábios, nos cabelos pintados de loiro da nova namorada. Quando vem para a cama com a gente torna nossas noites ainda mais quentes. Eu não estou falando de algo distante, estou falando de algo presente que quem me toca sente, mal sabem elas que é seu cheiro em mim que me fez atraente. Foto: Ricardo/ dela: Gabi L.
sábado, 9 de maio de 2009
a juventude dela
Ela mentiu sobre a idade. Disse que já estava na faculdade, deu o nome de um curso com o qual sonhava. Gostei dos livros que dizia ter lido, parecia verdade. Quis levar ela comigo, fazer a minha parte até que o mundo se torne grande demais e nos afaste. Um dia ela vai me telefonar de longe. Um dia ela vai perder meu número. Eu terei me aquecido por algumas noites, nunca espero mais do que isso. O amor não pode ser algo no qual você se agarra quando ele vai embora. O amor é algo no qual você acredita quando beija, toca, recebe de volta. A juventude dela é um privilégio que me foi concedido. Não verei no que ela se transformará, mas fecho os olhos e imagino, com que corte de cabelo e em que vestido. Até o filme que está passando atrás. Mas voltemos à Terra, onde os pés estão, antes que eu me perca, antes que eu a perca, soltemos as mãos. A música estava alta demais, não entendia metade do que ela dizia, mas depois de alguns segundos não era no que ela dizia para me impressionar que eu me concentrava, mas em como seus lábios se moviam e quanto tempo demoraria para num beijo deixá-la sem ar. Naquela noite eu disse que voltaria. Na manhã seguinte ela colocou algumas roupas e cedês na mochila e só teve que esperar dez minutos na esquina onde ficamos de nos encontrar. Foi o tempo de esvaziar algumas gavetas. Foto: Ricardo/ dela: Renata.
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