domingo, 10 de agosto de 2008

que se dane o amor que acaba

“... não há literatura, só há vida; não há vida, só há literatura; não há começo, não há fim...”

Dou milhões de voltas e acabo sempre aqui. Ensina-me a dançar?, pergunto e ela ri. Não precisamos carregar nada além do peso de nós mesmos. Eu digo a ela como se tivesse uma faca, quisesse sangue: tem uma criança morrendo de fome neste exato instante, no mundo, em algum lugar, já parou para pensar que essa sua vontade de chorar, de se descabelar, é uma grande bobagem diante de tanta injustiça que há. Que se dane o amor que acaba, que se dane. Prefiro quando acaba, abrem-se novas possibilidades. Há tantas pessoas interessantes pelo mundo, você só estava com preguiça de procurar. O amor é isso: uma grande preguiça de procurar. Por isso inventaram o controle remoto, o sofá, para a gente se acomodar. Eu já vivi tanto isso que tenho as respostas todas na ponta da língua, vem pegar. Não vim para passar a mão na sua cabeça, vim para lhe esquentar. Não sei de coisa melhor para o frio que está fazendo do que isto mesmo que você acabou de pensar. “Apenas bons amigos” escreveram sob a nossa foto. Mal sabem eles. Prefiro quando não se combina nada, na volta do cinema, prometo que vou me comportar, mas não posso jurar com essa sua língua dentro da minha orelha. Foto: Ricardo/ela: Kel.