segunda-feira, 18 de agosto de 2008

do capítulo 'pendências amorosas'

para você nana

Eu estava com umas pendências amorosas para resolver. Sabe aquele restinho que fica entre ela e você que basta um olhar para a coisa inflamar? É bom ter para o que voltar. O mundo é feito das impressões que deixamos naqueles que tocamos: estive aqui, passei por ali, em alguns corpos até se pode ler. Mas agora acho que já rolamos na cama tudo o que restava. Definitivamente amor não era mais o assunto enquanto a gente se trocava. Eu ajudei ela com o lençol, depois esvaziei o cinzeiro, sei o lugar onde ela o guarda, vou sentir saudade do ‘lugar onde ela o guarda’, apanhei meu celular, meu relógio, dei uma última olhada. Devolvo a cópia da chave que ela me deu, não chego mais de madrugada. Da próxima vez que vier me visitar, tomaremos chá. A porta não está fechada, somente encostada, ela me mostra que é só empurrar. Faço o teste e ela ri. Da rua me viro e a vejo na janela. Ela estava lá e não está mais. Foi cuidar da sua vida, eu vim cuidar da minha: de você quero dizer. Por que estou contando isso? Você fez aquela cara de que não precisava. De certo que não precisava. É só para lembrar que o que começa também acaba. Prefiro que seja assim sem dor nem para mim nem para você. A gente começou amigo, depois é que o fogo pegou. Até quando é algo que não se pode prever, apenas viver para saber. Foto: Ricardo/ ela: Helena.