A cidade é enorme. A gente é só uma janela iluminada. Será que apenas assistimos tevê ou fazemos amor no tapete da sala? A gente nem conhece os nossos vizinhos. Não sabemos em que ela trabalha, para onde vão todos os domingos, apenas a que hora sempre jantam porque podemos sentir o cheiro da sacada, você acende um cigarro, eu preparo um drinque, depois ficamos em silêncio enquanto eles discutem, aquilo nos deixa constrangidos, pensamos como é bom não ter os mesmos problemas, depois apagamos as luzes e vamos dormir.
Eu estou escrevendo um livro, a idéia de viver com um escritor costumava deixar você excitada, hoje você lê enciumada o que rabisco, a personagem principal lembra uma mulher do meu passado, dei o seu segundo nome à ela mas não adiantou nada, é como se eu buscasse corrigir uma parte da minha vida. Algumas alunas vieram fazer uma entrevista, um trabalho de faculdade. Eu disse que para mim ‘escrever é que é a vida, enquanto viver é só um rascunho, algo de onde partir’. Não queria dizer nada, você deu mais importância aquilo do que eu mesmo, acho que elas nem gravaram, só conseguia pensar que tinha a mesma idade das alunas que vieram me entrevistar quando me conheceu. Tinha lido alguns dos meus contos, a idéia de viver com um escritor costumava deixar você excitada, achava que nossos assuntos seriam outros, gostaria de ficar apenas sentada ao meu lado observando-me falar, imaginando como seriam quando aquelas palavras fossem para o papel, no formato das letras, na qualidade da impressão.
Mas a cidade é enorme, eu já disse, a gente não passa de uma janela iluminada. Nossos vizinhos não nos conhecem. Não sabem que a personagem principal do meu livro lembra uma mulher do meu passado, nem que você tinha a mesma idade das alunas que vieram me entrevistar quando me conheceu, apenas a que horas jantamos porque podem sentir o cheiro da sacada, ela acende um cigarro, ele prepara um drinque, depois ficam em silêncio perguntando-se porque nunca se ouve conversa no apartamento ao lado, aquilo os deixa intrigados, pensando como é bom não ter os mesmos problemas, depois apagam as luzes e vão dormir. Foto: Nelson Abrahão Filho/ arte: Cris Maria.
Eu estou escrevendo um livro, a idéia de viver com um escritor costumava deixar você excitada, hoje você lê enciumada o que rabisco, a personagem principal lembra uma mulher do meu passado, dei o seu segundo nome à ela mas não adiantou nada, é como se eu buscasse corrigir uma parte da minha vida. Algumas alunas vieram fazer uma entrevista, um trabalho de faculdade. Eu disse que para mim ‘escrever é que é a vida, enquanto viver é só um rascunho, algo de onde partir’. Não queria dizer nada, você deu mais importância aquilo do que eu mesmo, acho que elas nem gravaram, só conseguia pensar que tinha a mesma idade das alunas que vieram me entrevistar quando me conheceu. Tinha lido alguns dos meus contos, a idéia de viver com um escritor costumava deixar você excitada, achava que nossos assuntos seriam outros, gostaria de ficar apenas sentada ao meu lado observando-me falar, imaginando como seriam quando aquelas palavras fossem para o papel, no formato das letras, na qualidade da impressão.
Mas a cidade é enorme, eu já disse, a gente não passa de uma janela iluminada. Nossos vizinhos não nos conhecem. Não sabem que a personagem principal do meu livro lembra uma mulher do meu passado, nem que você tinha a mesma idade das alunas que vieram me entrevistar quando me conheceu, apenas a que horas jantamos porque podem sentir o cheiro da sacada, ela acende um cigarro, ele prepara um drinque, depois ficam em silêncio perguntando-se porque nunca se ouve conversa no apartamento ao lado, aquilo os deixa intrigados, pensando como é bom não ter os mesmos problemas, depois apagam as luzes e vão dormir. Foto: Nelson Abrahão Filho/ arte: Cris Maria.