terça-feira, 13 de maio de 2008

a noite mais fria do ano

A marca de cigarro que ela fuma, o livro que tirou do lugar, a taça em que bebeu, o disco que colocou para tocar. O brinco que ela esqueceu, a promessa de que vai voltar, o nome que ela me deu, o perfume que deixou no ar. A atriz que ela me lembra, o filme que eu quis rodar, o telefone fora do gancho, a bagunça que ficou para contar. A noite mais fria do ano, nem chegamos a notar, a tatuagem que ela fez, nem queira saber o lugar.

Duas xícaras de café, ela toma o dela sem açúcar, na toalha que usou, alguns fios de sua cabeleira ruiva. Os segredos que não existem mais, entre o meu corpo e o dela, quem disse que para ser ‘romântico’ precisa luz de velas. O nome da sua rua, número do apartamento e andar, “quando quiser” – disse ela – “sabe onde me encontrar”. Essa coisa de pele que não tem como evitar, descubro onde sente cócegas, ela me conta o que a faz chorar.

Pego-me assobiando, a música que ela quis dançar, não encontro o outro pé do sapato, procuro embaixo do sofá. Na gola da camisa, marca de batom vermelho, não consigo decifrar o que escreveu no espelho. Posso colocar tudo em ordem, de volta no seu lugar, mas os vestígios da sua passagem não tem como apagar. É só um primeiro rascunho, da história que eu queria contar, mas publico assim mesmo, acho que ela vai gostar.
Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Gabi L.