para Gabi L.
Combinamos de dar uma volta. As ruas estavam vazias e tranqüilas, podíamos prestar atenção só um no outro, de certa forma a cidade ao nosso redor não existia mais ou quem sabe fosse apenas um cenário que se adaptasse aos nossos caprichos, não tínhamos pressa nem outra vida diferente planejada para mais tarde. Era somente isto que eu queria dizer para começar, o resto deixo por sua conta imaginar, que tom de céu prefere, como nos vestiamos e que desalinho o vento havia feito em nossos cabelos.
Ela perguntava do meu trabalho, como devia ser fascinante, coisa que eu não acho, mas deixei que falasse. Ela ainda estava na faculdade, o que na cabeça dela a colocava em desvantagem em relação a mim, quis saber sua opinião sobre o curso mais como quem se aproveita de um assunto que surgiu em meio a conversa do que por curiosidade, mas ela contou-me toda a história, dos amigos e de como se sentia a diferente da turma, o que estava lendo, o que a tinha impressionado, queria parecer mais adulta do que se sabia, fiquei lisonjeado que todo aquele esforço fosse para mim, nem precisava aquilo, mas mantive o jogo como ela queria, estava se saindo bem.
Sugeri que parássemos para um café. Ela concordou que era uma boa idéia, sentarmos um pouco, sairmos daquele frio. Entramos, minha mesa preferida estava vazia, fui na direção dela como quem disputa uma corrida que só você sabe contra todo mundo que freqüenta ou não aquele lugar, até acelerei um pouco o passo ridículo. Quando puxei a cadeira para que sentasse, perguntei por perguntar se preferia outra mesa, ‘esta está boa’ – respondeu. Recusei o cardápio que o garçom me trouxe, não conhecia aquele, ou era novo ou só fazia aquele horário, não costumo vir de dia, pedi meu café de sempre, mas ele teve de abrir o cardápio para descobrir qual era o número do pedido que fazia, ela ainda se entreteu um pouco mais com os vários tipos de café que o lugar servia até que por pura indecisão resolveu acompanhar-me. Então eu desatei a falar sobre café, sobre o que bebia, quando dei por mim já estava falando de filosofia, de cinema, política, economia e de todos os assuntos que o jornal cobria – uma grande bobagem, mas os olhos dela brilhavam para tudo o que eu dizia, acho que os olhos dela brilhavam, gosto de pensar que sim, a história é minha. O que eu sei é que ela parecia ter ficado sem texto para falar comigo, é como se tivesse se dado conta de que não tinha se preparado o suficiente, tinha aquela expressão de quem acha que não tem mais nada de interessante para mostrar que sabe – ah como eu queria convencê-la do contrário, fazer com que ela entendesse o quanto sou também comum, inexpressivo, que não sei metade do que aparento, mesmo sabendo o risco que era quebrar o encanto. Nem sei porque estou escrevendo tudo isto, ela só me pediu que lhe fizesse ‘algo que tivesse anjos’, depois de me perguntar como era isto de escrever (como se eu soubesse). Respondi o que podia, qual era o meu método e como é mais simples quando você não cria muita expectativa sobre o que vai colocar no papel. Depois de algumas xícaras, doces, beijos, balas, cigarro, pedimos a conta e fomos embora. Nas ruas, aquela hora, havia um movimento maior de carros, as pessoas voltavam do trabalho, buzinavam, aceleravam, tinham pressa, não nos deixavam prestar mais atenção só um no outro, a cidade ao nosso redor reclamava um papel maior do que ´árvore’ naquela história, ainda assim não nos interessávamos muito, a nossa vida era somente aquela, do jeito que a vivíamos, do jeito que eu sei contar. Era somente isto que eu queria dizer para terminar, o resto deixo por sua conta imaginar, que dia da semana era, que trilha-sonora combina, como deve continuar. Foto: Ricardo/ modelo: Gabi L.
Combinamos de dar uma volta. As ruas estavam vazias e tranqüilas, podíamos prestar atenção só um no outro, de certa forma a cidade ao nosso redor não existia mais ou quem sabe fosse apenas um cenário que se adaptasse aos nossos caprichos, não tínhamos pressa nem outra vida diferente planejada para mais tarde. Era somente isto que eu queria dizer para começar, o resto deixo por sua conta imaginar, que tom de céu prefere, como nos vestiamos e que desalinho o vento havia feito em nossos cabelos.
Ela perguntava do meu trabalho, como devia ser fascinante, coisa que eu não acho, mas deixei que falasse. Ela ainda estava na faculdade, o que na cabeça dela a colocava em desvantagem em relação a mim, quis saber sua opinião sobre o curso mais como quem se aproveita de um assunto que surgiu em meio a conversa do que por curiosidade, mas ela contou-me toda a história, dos amigos e de como se sentia a diferente da turma, o que estava lendo, o que a tinha impressionado, queria parecer mais adulta do que se sabia, fiquei lisonjeado que todo aquele esforço fosse para mim, nem precisava aquilo, mas mantive o jogo como ela queria, estava se saindo bem.
Sugeri que parássemos para um café. Ela concordou que era uma boa idéia, sentarmos um pouco, sairmos daquele frio. Entramos, minha mesa preferida estava vazia, fui na direção dela como quem disputa uma corrida que só você sabe contra todo mundo que freqüenta ou não aquele lugar, até acelerei um pouco o passo ridículo. Quando puxei a cadeira para que sentasse, perguntei por perguntar se preferia outra mesa, ‘esta está boa’ – respondeu. Recusei o cardápio que o garçom me trouxe, não conhecia aquele, ou era novo ou só fazia aquele horário, não costumo vir de dia, pedi meu café de sempre, mas ele teve de abrir o cardápio para descobrir qual era o número do pedido que fazia, ela ainda se entreteu um pouco mais com os vários tipos de café que o lugar servia até que por pura indecisão resolveu acompanhar-me. Então eu desatei a falar sobre café, sobre o que bebia, quando dei por mim já estava falando de filosofia, de cinema, política, economia e de todos os assuntos que o jornal cobria – uma grande bobagem, mas os olhos dela brilhavam para tudo o que eu dizia, acho que os olhos dela brilhavam, gosto de pensar que sim, a história é minha. O que eu sei é que ela parecia ter ficado sem texto para falar comigo, é como se tivesse se dado conta de que não tinha se preparado o suficiente, tinha aquela expressão de quem acha que não tem mais nada de interessante para mostrar que sabe – ah como eu queria convencê-la do contrário, fazer com que ela entendesse o quanto sou também comum, inexpressivo, que não sei metade do que aparento, mesmo sabendo o risco que era quebrar o encanto. Nem sei porque estou escrevendo tudo isto, ela só me pediu que lhe fizesse ‘algo que tivesse anjos’, depois de me perguntar como era isto de escrever (como se eu soubesse). Respondi o que podia, qual era o meu método e como é mais simples quando você não cria muita expectativa sobre o que vai colocar no papel. Depois de algumas xícaras, doces, beijos, balas, cigarro, pedimos a conta e fomos embora. Nas ruas, aquela hora, havia um movimento maior de carros, as pessoas voltavam do trabalho, buzinavam, aceleravam, tinham pressa, não nos deixavam prestar mais atenção só um no outro, a cidade ao nosso redor reclamava um papel maior do que ´árvore’ naquela história, ainda assim não nos interessávamos muito, a nossa vida era somente aquela, do jeito que a vivíamos, do jeito que eu sei contar. Era somente isto que eu queria dizer para terminar, o resto deixo por sua conta imaginar, que dia da semana era, que trilha-sonora combina, como deve continuar. Foto: Ricardo/ modelo: Gabi L.