Gosto de pensar que os amores vão se acumulando dentro da gente, que o que sentimos nunca se perde, torna-se parte de nós, algo latente. Não falo de alguns amores em especial, falo de todos indistintamente, sejam aqueles que tiveram o seu tempo, sejam aqueles interrompidos precocemente. Lavoisier dizia “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, penso que com o amor não é diferente, toda história nova que se inicia tem algo da que passou presente. O corpo aprende com o amor, nossa boca com todas as bocas que se beijou, nossas mãos mesmo com aquelas mãos que se soltou, os braços, a pele e assim por diante: cada mulher que me amou me tornou melhor amante. O que você gostou de ontem a noite peguei emprestado de outras noites, fui juntando os pedaços, posso até esquecer com quem aprendi, não o aprendizado. O que você gostou em mim vem deste meu passado, não faz sentido sentir ciumes do que me foi deixado, do que está em cada um dos meus gestos, atos, movimentos para cima e para baixo. E como os amores que se acumularam anteriormente, o seu também resistirá a gente, se tornará parte de mim, algo para sempre. Foto dela: M.B.