domingo, 7 de março de 2010

depois que a luz acende

Depois que a luz acende, não há sonho nem corpo mais, apenas a lembrança de algumas noites atrás no relógio dizendo quanto tempo faz que ela se foi, na cama maior do que eu me lembrava, mesmo assim me encolho todo como se sua ausência ocupasse espaço demais, me roubasse o lençol, me apertasse contra a parede, me sufocasse com o travesseiro. A realidade é como estar doente, sua cabeça pesa, sua voz quase que nem sai, você simplesmente segue com a sua vida, ganha o seu dinheiro, pergunta quanto foi o corinthians, diz bom dia ao porteiro, ninguém precisa saber que um ventinho mais forte te fragmentaria por inteiro. E nem queria minha vida toda de volta para me arrepender dos demais erros, estou feliz com a minha verdade, com o que restou dos meus cabelos, só gostaria que essa história tivesse um dia a menos – e nem precisava ser assim eternamente, apenas um dia que eu pudesse escrever novamente e eu o escreveria diferente, mas não tem papel, não tem tinta, não tem poesia que me permita fazê-lo. Foto dela: Carla.