domingo, 7 de dezembro de 2008

do seu castelo de cartas

“... não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins...”
(Carlos Drummond de Andrade)


Você procura, encontra, depois procura de novo, nunca me preocupei se isto teria um fim, não me parece ser disso que se trata, mas de quem vamos nos tornando ao longo dos anos: antes você queria se soltar, hoje ter onde se agarrar – quem fez de tudo para ser expulsa do paraíso agora vem pedir para voltar. Isto não lhe soa engraçado? O que antes era a melhor coisa a se fazer agora parecer errado?

A gente só percebe que está vivo quando algo dói. A maior parte do tempo nem sabe se tem fome no mundo. E bebes e comes e ris. Mas aí quando se dá conta de que não é superior a porra nenhuma, que também sente as intempéries do tempo, seu castelo de cartas desmorona e você corre pedir colo com o rabo entre as pernas como se antes não fosse a primeira a negá-lo. Se quer fazer uma revolução comece pelo seu coração. Não coloque a culpa nos vizinhos da frente: você também já gostou de fazer com a cortina aberta pouco se importando com o que iam pensar. Não é estranho quando é você quem fala em regras? Fica se sentindo uma velha: sua mãe, seu pai, sua tia. Se eu lhe disser a minha idade você vai dizer ‘não parece’ como se eu fosse um menino de tão desobediente.

O fim disso tudo, creio, está na gente mesmo, no nosso próprio cansaço, não naquela de ontem ou nesta que acabou de sair. Elas representam horizontes, possibilidades, noites inteiras assim, muita saudade. Como saber o que me espera? Se o que ela diz é só um jogo de palavras para me confundir? Eu sei que uma contou para a outra quais eram os meus pontos fracos, eu sei ao mesmo tempo que não sei como reagir de outra forma, vou acabar por sucumbir, tenho compromisso somente com a minha pele, caso contrário, seria o mesmo que me trair, não teria o que escrever e você iria dormir; o que parece ser uma grande verdade, só serve para mim, não peço a ninguém que tente me acompanhar, que cada um cometa os seus próprios erros, chegue você a algum lugar: hoje na minha cama, amanhã na sua, não dá para saber como esta nem história alguma continua, metade do que faz brilhar os olhos é algo que a gente imagina. Se é amor o que você quer, podemos até tentar, mas desde quando isso é uma garantia? Você fala como se tivesse sido sempre honesta com o que sentia – responde uma coisa para mim, my dear: se lembra de alguma vez em que foi cruel com quem não queria? Amor não é só aquilo que você sente, como você sente, como você entende. Para você será de um jeito, para mim será diferente. O mesmo se aplica aos vizinhos aí da frente.
Foto dela: Stella.