Não nos conhecemos assim tão bem, apenas escutamos o que o outro está sentindo, o que ele acha que sabe sobre si mesmo e nem a isso nos prendemos. Elas me falam de suas vidas e eu imagino. E eu imagino como seriam enquanto adoço o café, acendo um cigarro, passo por uma rua da minha infância. E todo mundo têm histórias ótimas – mesmo que doam nelas aquelas histórias, ainda assim são ótimas, por causa delas não nos sentimos sozinhos, lembro do que me contaram enquanto volto para casa de carro, desligo o rádio para poder ouvi-las melhor na minha cabeça e enquanto me lembro acrescento pequenos detalhes que faltaram e as histórias que eram só delas se tornam minhas também enquanto faço a barba, passo uma camisa, olho como fiquei no espelho do armário. E você fica feliz delas terem sido reais em sua vida, delas terem gritado, exorcizado demônios bem ali na sua frente, delas terem chorado, delas terem se debatido, delas terem querido ficar contigo, delas terem existido. Você se sente culpado por não tê-las prendido tempo o suficiente entre os seus braços, a gente sempre acha que podia ter sido diferente do que foi e faz disso um álbum de fotografias que não tiraram – o qual folheia como se as visse. Mas por mais que eu me aventure dentro delas, apenas me distraem, no fundo eu não as conheço, nem a mulher que se ajeita ao meu lado na cama, nem a que se levantou para que esta ocupasse seu lugar e mesmo não as conhecendo posso falar delas por dias e posso dizer que música combina mais com o jeito com que se aproximam de mim e dançar com elas sem que saibam que tenho pernas, braços, coração prontos para isso e posso até me apaixonar por elas enquanto espero o elevador, o filme começar, a chuva passar. Foto dela: Quel.