
Todas estas janelas: possibilidades; todas estas possibilidades: quimeras. Vou-as percorrendo com o olhar, uma a uma. À procura, nem sei o que procuro, só sei o que procuro disfarçar. Depois, distraio-me com a chuva. Sinto frio. Sinto cansaço. Percorro a sala, vagarosamente, em busca do maço de cigarros; muito tempo depois, desisto de procurar. Sento-me no sofá, deito-me; aconchego-me, fecho os olhos.
Lembro-me, de repente: ele levou os meus cigarros. Penso nele, por fim. Uma outra vez mais: quando já não consigo adiar mais, quando sou incapaz de inventar novas distrações, novas fugas. E revivo tudo, momento após momento. Quando chego ao fim, retorno ao início; detenho-me nos pormenores, disseco-os um a um. Invoco os toques, os sons, os cheiros. Saboreio. Sofro. Espero. Espero o quê? Nada de mais; espero que o tempo venha e me leve com ele – simples assim, suficiente jamais. Imagem: Edward Hopper, Eleven A.M., 1926.
“Em alguma daquelas janelas” assim como “No que estará pensando”, “O Velho Cinema” e “Ás quatro da manhã” – publicados anteriormente aqui neste blogue – faz parte de uma série de pequenos textos que escrevi inspirados nas telas do pintor norte-americano Edward Hopper cuja influência sobre este blogue não se limita a estes textos mas espalha-se pelos demais com maior ou menor intensidade e também pelas fotos que ilustram muitos deles.