domingo, 17 de fevereiro de 2008

era para ser um abraço esse golpe de karatê

Eu sempre retorno aos mesmos lugares (2)

Gostaria de ter mais tempo para escolher as palavras certas, um bom escritor viveria disso, mas com o pouco que me resta só posso isto mesmo – convencê-la quem sabe a vir para mais perto, adoro mexer nos seus cabelos, o cheiro deles no travesseiro, você quer perguntar e não pergunta, só faço confundir mais a sua cabeça com as poucas coisas que confesso: “por que às vezes você me pega como se eu fosse urgente, fundamental na sua existência e em outras me olha como se nem soubesse meu nome, que jeito eu gosto que você faça?” (pareço ouvi-la dizer)

Não posso perder mais um único dia da minha vida já que não existe outra vida que não esta. Preciso assumir cada movimento, cada disparo, cada olhar que penetra fundo, cada amor que até onde eu saiba posso chama-lo assim. Porque vai tudo me escapando ao controle, dando voltas em torno de mim como se esperasse o melhor momento para dar o bote: sei o que plantei mas isto não significa que saiba o que me espera (alguém sabe?) – eu lhe dei de comer, ajudei a criar a fera, acho justo que chegue o dia em que você também não negocie, não faça qualquer concessão, que me deixe também só com o gostinho.

Ela quer entender tudo o que eu falo, descrevo com as mãos, mostro num livro, olha e presta atenção e quer entender bem mais ainda o porque de ser assim, de estar aqui, o que sente, o que acontece e porque às vezes é tão diferente, parece que é só viver. No mundo dela (assim como no de todo mundo) falta tanta coisa, mas ela gosta do que é possível, do que pode ter nas mãos, prender entre as pernas, levar para uma festa e apresentar aos amigos, daquilo inteligente que ela sabe que eu vou dizer e em onde termina. Não sei tudo o que se passa pela cabeça dela, sei o que preciso saber quando vem na minha direção, me interpreta com os olhos, não me deixa mais o que pensar.
Foto: Renata Punk/ modelo: Maitê.