quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

guardada comigo


Gosto de guardar o que vivi. Mas às vezes preciso rasgar tudo, mentir sobre tudo, mudar de idéia. Tenho fechado em meus olhos um álbum de fotos que nunca revelei: nele mulheres que só eu sei com aquela luz e os poemas que pensei e não disse – não disse ainda ou nunca direi. Seria inútil dizê-los, ninguém sentirá a mesma felicidade percorrendo o seu corpo nem entenderá o amor mais do que eu. Ficará em mim como uma melodia, canção que talvez assobie sem saber para quem a compus.

Depois que ela saiu fiz algumas anotações. Quero dar-lhe um nome novo para que daqui há alguns anos ninguém saiba do que se trata. Nem ela saberá se foi de um filme ou de sua juventude. Todos contarão histórias maravilhosas, ela guardará as que sabe para algumas noites só dela, depois de um livro e apagar a luz. Será que é real depois que acaba? Ou o sonho é um outro modo de experimentar? Seu perfume em outras mulheres não é seu perfume, sou eu querendo acreditar. Eu inventei seu perfume – depois de alguns anos me esqueci como era. Ela não é você nem nunca será. Não posso sacrificá-la, tenho que deixá-la respirar. Serei rude, grosseiro, direi que não me importo, será mais fácil se ela me odiar. É para o bem dela que afio minhas garras.

Hoje eu não quero lembrar, vou fazer uma fogueira, há muitos nomes na minha boca que já não sei pronunciar, números de telefone, longas cartas, passagens secretas e promessas que fiz e não cumpri. Na minha vida outra ocupa o seu lugar até que outra venha ocupar e assim eu passo a impressão de que estou seguindo em frente fazendo a roda girar. Este ano bati o meu recorde e não tenho o que comemorar. Contarei vantagem mas será só para disfarçar.
Foto: Ricardo Pereira/ modelo: Melissa