Vamos adorar recebê-la. Meus móveis, eletrodomésticos, cama, mesa, banho e eu. Minha campainha espera o seu toque. A porta que por ela passe. O tapete que o pise, sem dó. Se quiser tire o sapato, fique a vontade, a casa é sua. Meu sofá quer que se acomode. Meu abajur iluminá-la. Meus livros que os folheem. Se quiser leio para você, a insustentável leveza do ser, são só trezentas páginas. Meu fogão quer cozinhar para você. Meu refrigerador manter o vinho na temperatura certa. Meus pratos servi-la. Se quiser ensino meu tempero, é salsa chinesa, tem em qualquer mercado. Meu toca-discos quer tirá-la para dançar, as taças brindá-la, as paredes guardar segredos. Se quiser pode ficar, não importa o que os vizinhos vão pensar, ambos somos solteiros. Minha cama quer aconchegá-la, meu lençol se impregnar do seu cheiro, o meu relógio que as horas demorem a passar. Se quiser pode me amar, se quiser vou recebê-la por inteiro, apertando um pouco sobra até lugar. A mesa do café quer lhe dizer bom dia, a água do meu chuveiro percorrer todo o seu corpo, a toalha envolvê-lo todo. Se quiser pode vestir uma de minhas camisas, se quiser pode ficar como está, as cortinas servem para isto mesmo. Meus móveis não querem que você vá. Meus eletrodomésticos deixarão de funcionar sob protesto. Até você voltar ao meu quarto e sala modesto. Foto dela: P. Palmieri.