São tantas histórias acontecendo e a gente é só uma delas. O Tempo é um senhor implacável e viver tudo dura poucos segundos ‘dele’ por isto insistimos em transcendermos o instantâneo com fotografias de risos e festas, pequenos registros e farsas, se não podemos ser deuses pelo menos fingimos que temos algum controle, alguma resposta na ponta da língua para quando nos perguntam o que estamos fazendo da nossa vida. Eu estou mastigando a carne que consigo, enganando o estômago, fazendo poesia do que fica preso entre os dentes e assim quando olho para trás, restos de comida e ossos, não sinto que foi um desperdício, não cuspo no prato que como, tudo teve o seu sabor, lembro-me de todo o esforço da caça e relato em volta do fogo.
Entendo quando ela me pede que conte tudo de novo, que não a deixe fechar os olhos, acordar na manhã seguinte com a sensação de que não teve quando teve, teve e perdeu, teve e não soube dizer o que sentia, teve e não sabe que nome se usa hoje em dia, teve e parece que é só da poesia que eu deixei para ela como desculpa pela cama desarrumada, sua cabeça bagunçada. Eu sou muitas histórias, você outras tantas e quando a gente se cruza numa rua, numa noite, é só uma delas, podia ter passado direto e vivido outra mais adiante, mais fundamental menos insignificante, e não haveria esta nostalgia de um minuto atrás de quando se deixa algo cair e quebrar quando se acreditava com toda a força que o tinha em segurança apertado contra o peito.
É que nem tudo pode nem tem como caber na sua vida (no seu corpo e naquilo que ele sente, eu quero dizer) por isto você precisa de critérios, formas de selecionar aquilo que se ajusta perfeitamente a quem você é daquilo que não bate porque você prefere fazer uma idéia errada de si mesma para ter o que conversar de louco com os seus amigos, só que depois eles vão embora e ‘quem não é você’ fica sem ter para onde correr. Eu não sei de nada, desculpe se lhe passei esta impressão errada, não sei colocar ordem no mundo, tampouco o nome de metade do que você me pergunta, eu só sei que é madrugada, que você enfim conseguiu dormir e que amanhã quem sabe podiamos muito bem perder alguns minutinhos discutindo até onde pretendemos ir com isso. Foto: Nelson Luís Abraão, Angela Noturna, 2006.
Entendo quando ela me pede que conte tudo de novo, que não a deixe fechar os olhos, acordar na manhã seguinte com a sensação de que não teve quando teve, teve e perdeu, teve e não soube dizer o que sentia, teve e não sabe que nome se usa hoje em dia, teve e parece que é só da poesia que eu deixei para ela como desculpa pela cama desarrumada, sua cabeça bagunçada. Eu sou muitas histórias, você outras tantas e quando a gente se cruza numa rua, numa noite, é só uma delas, podia ter passado direto e vivido outra mais adiante, mais fundamental menos insignificante, e não haveria esta nostalgia de um minuto atrás de quando se deixa algo cair e quebrar quando se acreditava com toda a força que o tinha em segurança apertado contra o peito.
É que nem tudo pode nem tem como caber na sua vida (no seu corpo e naquilo que ele sente, eu quero dizer) por isto você precisa de critérios, formas de selecionar aquilo que se ajusta perfeitamente a quem você é daquilo que não bate porque você prefere fazer uma idéia errada de si mesma para ter o que conversar de louco com os seus amigos, só que depois eles vão embora e ‘quem não é você’ fica sem ter para onde correr. Eu não sei de nada, desculpe se lhe passei esta impressão errada, não sei colocar ordem no mundo, tampouco o nome de metade do que você me pergunta, eu só sei que é madrugada, que você enfim conseguiu dormir e que amanhã quem sabe podiamos muito bem perder alguns minutinhos discutindo até onde pretendemos ir com isso. Foto: Nelson Luís Abraão, Angela Noturna, 2006.