domingo, 23 de outubro de 2016

você não precisa de mim


para helena m. 

Você não precisa de mim para ser por isto posso partir pela manhã como quem nem esteve ali. Não há nada para dizer, nada que me mantenha aqui além do que você já me quis, deixo a cama devagar como quem sabe ocupar um lugar que não lhe diz. Antes de sair procuro apagar todos os vestígios meus, não fiquei de te ligar nem mesmo de voltar, nada se prometeu. Fecho a porta atrás de mim como se fosse o fim. Já na rua, respiro o ar de um novo dia, um minuto a mais e, um ao outro, sufocaria. Você acorda como quem sonhou, dormiu nua porque estava calor, embora seu corpo todo saiba que fez amor. É uma segunda-feira cheia de coisas mais importantes: terminar uma tela, cortar só as pontas, viver a sua maneira, ninguém paga suas contas. Ainda demora para ser noite de novo, para esticar o braço para o que está fora da gente, não dentro, não por um vazio que se preenche. Pode ser que me procure, pode ser que não me encontre, não precisa ser o mesmo da noite de ontem. Não há cobrança nem dor, o que um dá o outro não sente que conquistou, importa só quando se tem entre – as pernas, os braços, os dentes. Foto dela: M. Palmieri.