Não pensei que viesse, embora tivesse, claro, esperança, afinal, depois de tanto tempo pinta a desconfiança de que talvez já fosse passado, que não desse as noites que tivemos a mesma importância que ainda dou, por isso guardei seu número, imaginava que isso pudesse acontecer, que um dia mais do que te rever quisesse de volta o que 'acabou'. Mas não queria interromper nada, se estivesse em outra me desculparia, um misto de curiosidade e saudade me movia, de saber como estava, se a gente ainda 'podia'. Não pensei que reconheceria minha voz, embora tivesse me ouvido dizer tantas vezes o que sentia, será que guardou minhas poesias?, queria incluir muitas delas numa antologia, nunca fui tão explícito, nunca fui tão bonito como naqueles dias; podia fingir que estava ocupada, eu entenderia, mas você conversou comigo ‘durante horas’ como se fosse algo que há muito queria, combinamos que viria, que daria uma passada, sem pressa, quando pudesse, quando quisesse, eu te esperaria. Você veio, para minha surpresa, para minha alegria, como quem muda seus planos para aquele dia, como quem se veste para uma ocasião que há muito não se vestia, como quem se despe para quem há muito não se despia. Foto dela: Ana Martin.
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